Junto a minha humilde voz ao coro de vozes que manifestam a sua desolação por esta perda irreparável para a nossa nação e aproveito para hipotecar junto a família enlutada os mais sentidos votos de pesar. São Tomé e Príncipe ficou mais pobre desde ontem, acreditem!
Tive o privilégio de conhecer pessoalmente a Dona Alda nos finais da década de oitenta, quando fazia parte de um grupo de estudantes da Trindade, que sob o incentivo de um professor (confesso que já não me lembro se foi o professor “Chandinho” ou o professor Bernardo), teve a pretensão de aventurar-se no mundo da poesia (pensávamos na altura que tal façanha estava ao alcance de qualquer comum mortal), na tentativa de fazer surgir novos valores nas letras de São Tomé e Príncipe. Reunimo-nos duas ou três vezes com ela para apresentar os nossos escritos e pedir orientações e posso dizer sem qualquer demagogia que foi ela que definitivamente plantou em mim o gosto pela leitura e escrita. Deu-nos um conselho valioso (“…para escreverem bem, têm que ler, ler muito”) e dois livros para cada um: Um de prosa e outro de poesia. A mim calhou o “Sagrada esperança” do seu amigo Agostinho Neto e o “Terra morta” de Castro Soromenho. Foram os primeiros livros “a sério” que li na minha vida e ainda os conservo no meu antigo quarto, na roça do meu avô, nos arredores da Trindade, tinha 12 ou 13 anos na altura.
Pensei em varias formas de lhe prestar uma singela homenagem, mas nada me parece mais apropriado do que faze-lo na linguagem que ela melhor entendia: A linguagem da poesia.
- Dona Alda, embora não tenha o génio e o talento que lhe eram reconhecidos, arrisquei esses versos para si. Que Deus a tenha no seu eterno descanso!
MAMÃ GRANDE
Shiu! Não façam barulho, mamã grande está a dormir…
E quando ela dorme, o silêncio tem que reinar
E quando ela dorme, ninguém pode chorar ou rir
Porque se ela deixar de dormir, será incapaz de sonhar
Shiu! Não façam barulho, mamã grande está a sonhar…
E quando ela sonha, suas memórias consegue rever
E quando ela sonha, a inspiração sai a ganhar
Porque se ela deixar de sonhar, será incapaz de escrever
Shiu! Não façam barulho, mamã grande está a escrever…
E quando ela escreve, mentalidades consegue mudar
E quando ela escreve, dá um sentido ao nosso viver
Porque se ela deixar de escrever, será incapaz de lutar
Shiu! Não façam barulho, não agora…
Mesmo que mamã grande já não sonhe
Mesmo que mamã grande já não escreva
Mesmo que mamã grande já não lute
Porque nem a morte a fará morrer em nós
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