segunda-feira, 14 de junho de 2010

AFINAL, O MUNDIAL É MESMO EM ÁFRICA!

Depois de 18 edições, 80 anos de existência e depois de se ter realizado 10 vezes na Europa, 4 vezes na América do sul, 3 vezes na América do norte e 1 vez na Ásia, o segundo maior evento desportivo do mundo acontece esse ano em África. Depois de séculos de sofrimento e privações, de décadas de luta árdua pela conquista de direitos básicos que outros povos têm como garantidos há muito tempo, uma das maiores conquistas dos tempos modernos e um dos sonhos colectivos mais entusiasmantes dos africanos, desde a conquista das independências dos nossos países, começou a materializar-se no passado dia 11: O campeonato do mundo de futebol chegou finalmente à África, à nossa África. Apesar de ser a África do sul o país a ter o privilégio e o mérito de sediar o mundial de futebol, creio não estar a exagerar ao afirmar que, pela primeira vez na história, um continente inteiro sente e vive o mundial como seu. Este é pois, o mundial de todos nós, africanos!

Os outros membros da FIFA, os não africanos, quiçá imbuídos ainda num espírito neo-colonialista, desde sempre torceram o nariz a essa conquista. Os jornalistas ocidentais, quais profetas da desgraça, criticaram logo a decisão da FIFA e traçaram os piores cenários de insucesso, exaltando sempre os atrasos nas obras, as convulsões sociais, as dificuldades de segurança e tudo mais que podiam agarrar para tentar convencer o mundo que tinha sido um erro atribuir-se à um pais africano a responsabilidade de organizar tamanho evento. Disseram aos seus conterrâneos para não viajarem para a África do sul; alertaram-nos de forma doentia para os inúmeros perigos que estariam a sua espera; criaram gabinetes de crise para emitirem documentos em tempo recorde, prevendo que seriam todos assaltados assim que pisassem o solo sul-africano e em alguns casos, destacaram os seus próprios seguranças para proteger os seus cidadãos e atletas, já que não depositam confiança mínima nas forças policiais lá do gueto. Ainda hoje, já com o campeonato a decorrer, cada assalto que acontece, cada falha logística que se verifica, cada doente de com sida que morre, cada sem-abrigo que se encontra, cada desempregado que se descobre é logo noticia de abertura de telejornal e manchete de jornal, para mostrarem ao resto do mundo que afinal tinham razão, que os selvagens, analfabetos, corruptos e polígamos africanos não podiam nunca ter o direito de realizar um evento de escala planetária, como se esses fossem problemas exclusivos da África do sul, como se não houvesse também desemprego na Europa, como se não houvesse também crime nas Américas ou como se não se morresse também de fome e de sida na Ásia. Seria bonito se assim não fosse, mas infelizmente, essas chagas sociais são, também elas, de escala planetária.

Afinal, por obra e graça de Deus, os estádios ficaram prontos, os aeroportos, os hotéis, as estradas, a segurança e toda a logística acessória também está a funcionar dentro dos parâmetros razoáveis e o primeiro mundial em solo africano está a acontecer. Tem havido algumas falhas de organização?! Sim! Tem acontecido algumas situações complicadas a nível de segurança?! Sim! Mas se até hoje ninguém conseguiu organizar um mundial perfeito, por que carga de água se exige isso da África do sul?!

A cerimónia de abertura foi bonita, majestosa e imponente, digna de um mundial de futebol e das melhores cerimónias de abertura que pude assistir até hoje (a melhor, para mim, foi a dos jogos olímpicos de Pequim em 2008) e não pude deixar de emocionar-me quando o Jacob Zuma declarou oficialmente o inicio do mundial, de mãos dadas com o Joseph Blatter, esse irresponsável e teimoso presidente de FIFA, que a par do próprio presidente da África do sul e do Mandela, foi um dos grandes obreiros dessa conquista que enche de orgulho todos os africanos. Disseram que o homem era louco por acreditar na competência e dedicação dos africanos; disseram que a decisão de levar o mundial à África escondia uma agenda política secreta, quiçá uma rede de corrupção e jogos de interesse e até definiram vários países suplentes que estariam de prontidão para receber o mundial em ultima hora, já que era garantido o fracasso dos africanos, mas no fim, e como sempre acontece, o sonho comandou a vida e o nosso mundial africano é hoje uma realidade.

Que continue a correr tudo dentro da normalidade e que as selecções africanas, empolgadas pelo som estridente das vuvuzelas, consigam superar-se e surpreender o mundo desportivo, apoiadas nas estatísticas favoráveis, que mostram que apenas por uma vez, o mundial não foi ganho por uma selecção do mesmo continente do País organizador. Teremos nós, direito à essa cereja no topo do bolo?! Quem viver, verá!

Um comentário: