* Dois compadres encontram-se nas instalações da EMAE quando iam pagar as suas contas de água e luz:
Compadre 1 – Olha quem está aqui…Há muito tempo compadre… Como é que foi a estadia em Portugal? E a comadre Maria? Já esta melhor?
Compadre 2 – Pois é meu caro amigo, já se passaram 4 meses…A Maria está a recuperar bem da operação, como já estávamos sem dinheiro, tive que regressar sozinho para voltar ao trabalho. Ela vai continuar por lá mais um mês na casa dos familiares.
C 1 – Isso são boas notícias, ainda bem que a irmã dela conseguiu mexer água para essa Junta médica, vale a pena ser vivêncha de gente pesada… Então?! Compadre veio contribuir mais um bocado para o aumento da conta da EMAE? Olha que essa coisa de energia e água continua complicado por aqui…
C 2 – Nem te digo nada, depois de 4 meses fora do Pais, recebo ontem uma factura de água e luz de dois milhões de dobras…Dá para acreditar? Dois milhões!
C1 – Credo! Compadre deixou alguma coisa ligada ou quê? Alguma lâmpada ou frigorifico?
C 2 – Qual frigorífico? Desde que o outro avariou no ano passado que nós não temos frigorifico em casa e só agora é que eu trouxe uma televisão pequena que me deram em Portugal... Em casa só temos 5 lâmpadas, ferro de engomar e um rádio que eu ligo de vez enquanto para ouvir as notícias e fechei a torneira do próprio contador da agua antes de viajar… E mesmo que tivesse deixado uma lâmpada acesa não era caso para chegar a esse valor com essa situação de só haver energia um dia sim, dois dias não.
C 1 – Realmente isso é um roubo. Compadre tem que reclamar.
C 2 – O quê que compadre acha que estou a fazer? Há 3 dias que ando para frente e para trás…No primeiro dia falei com aquela senhora do balcão e ela disse que não pode fazer nada, se o contador marcou, está marcado! Pedi para falar com o chefe dela e ela disse que ele tinha ido almoçar, provavelmente só voltaria no dia seguinte. Dito e feito, esperei pelo homem até ao fim do expediente e o gajo não voltou… Vim ontem falar com ele, trouxe o bilhete de passagem e as copias dos documentos da junta para provar que estive ausente do País durante 4 meses e ele disse que sou mentiroso, que aluguei a casa a alguém e agora não quero pagar. Fui falar com o Director comercial, expliquei a situação e ele mandou um técnico ir lá pra casa confirmar a leitura.
C 1 – …E como é que ficou? Estava marcado?
C 2 – O gajo mexeu no contador, mostrou uns números esquisitos que eu não percebi e disse que estava bem e que tinha de pagar… Voltei hoje para falar com o Director comercial outra vez e disse-lhe que se não resolvesse o meu problema, iria falar com o próprio Director da EMAE e até com o Ministro se fosse preciso. Sabes que ele me disse?! Que o máximo que podia fazer era perdoar uma parte e eu pagar a outra. Já viste como é que as coisas funcionam aqui na EMAE?
C 1 – Isso esta cada vez pior…Eu também as vezes noto que as facturas vêm com valores muito altos e sempre que reclamo, voltam a baixar o valor, as vezes sem ir confirmar no contador…Realmente essa EMAE é um bobo.
C 2 – É bobo ou são uns ladrões! Mandam as facturas aldrabadas e se um gajo não reclama, dão-te no lombo com a força toda. Se com essas falhas de energia a gente já paga tudo isso, imagina se a energia fosse 24 h sobre 24h? Aí é que estávamos todos “buiados”. Mesmo assim nunca têm dinheiro para pagar o gasóleo da ENCO.
C 1 – Por isso é que o País não arranca…Um gajo vai tratar de algum documento e há sempre problemas porque não há energia pra ligar o computador e o ar condicionado dos funcionários públicos. As empresas que não têm geradores próprios são constantemente lesadas no seu processo de produção e vêm os seus apanhar por tabela clientes por falta de energia eléctrica. Quem tem frigorifico em casa não pode comprar o peixe em quantidade quando está barato porque não dá para saber se vai ter energia ou não para conservar o peixe. As coitadas das palaiês as vezes têm que deixar o peixe estragar porque a própria fabrica de gelo as vezes também não tem energia. O meu filho mais velho estuda a noite e quase nunca tem aulas por falta de energia e por causa disso, duas colegas ja apanharam bariga. Um gajo nunca sabe qual dia que pode assistir ao telejornal ou a um jogo na TV pelo mesmo motivo. Sem falar que esses cortes constantes de energia e as oscilações da corrente dão cabo de todos os electrodomésticos em casa…
C 2 – Pois é, foi assim que o meu frigorifico foi a vida…Nem durou 2 anos. Até já sinto saudades de chegar a casa depois do trabalho e beber uma “fresquinha” a estalar…
C 1 – É melhor compadre contentar com a cerveja quente porque a coisa está cada vez pior.
C 2 – Eu sei…Já deu pra notar que ainda há um longo calvário a ser percorrido…Mas ouvi falar que estão a pensar construir mini barragens hídricas com ajuda do Brasil. É verdade isso?
C 1 – Também ouvi qualquer coisa sobre isso, mas sinceramente que não sei se não será mais um projecto que não passará do papel…Depois de tantos estudos, tantos projectos falhados, tantas expectativas frustradas até tenho medo de voltar a ter esperança para não voltar a ter desilusões…E depois um gajo já esta tão habituado a essa vida que já nem liga muito a isso. Se tiver agua, tomo banho no chuveiro e encho os baldes todos para guardar, se não tiver, vou com os miúdos buscar no chafariz. Se tiver luz, vejo televisão, a mulher engoma com ferro eléctrico e os miúdos podem brincar na rua a noite, se não houver energia, jantamos com luz de vela e vamos cedo para cama fazer “coisa”.
C 2 – Pois é….Eu como estou “sôle”, nem isso posso fazer…
C 1 – Tem calma que isso é temporário… E como é que fica a situação da factura? Compadre vai pagar ou vai tentar falar com o Director da EMAE?
C 2 – Nem sei...E se eles ficarem com raiva por eu ter procurado o Director e nunca mais me darem energia? Como já consegui eliminar uma metade se calhar pago esse um milhão assim mesmo e chamo Deus…
C 1 – Nada disso, não podemos cruzar os braços e dizer sempre “sim senhor” a esses bandidos…Se compadre tem a certeza que não deixou nada ligado para justificar os dois milhões da factura, tem que reclamar e gritar "quidalê" até ao Primeiro-ministro e o Presidente se for preciso. É por esse comodismo que nos encontramos nessa situação. Temos que aprender a reclamar quando as coisas não estão bem e a lutar pelos nossos direitos de uma vez por todas!
C 2 – Ohhhh…Compadre pareceu um político a falar…Sim senhor! Compadre devia vir comigo para ajudar-me a falar com o homem…
C 1 – Kéi, compadre acha? Pra cortarem a minha energia também? O problema é do compadre e é o compadre que em que resolver sozinho. Além disso já não dá tempo, tenho que voltar ao trabalho agora…
C 2 – Eu logo vi que essa conversa era só zôplo…Como sempre, falar é bonito, mas na hora de agir, é cada um por si, não é?
C 1 - ....
E lá seguiram os compadres, cada um pró seu lado, pensativos e acomodados às suas vidas medíocres…Tristemente acomodados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário