“ A juventude é inconformada, irreverente e até incómoda, mas é precisamente isso que se espera dela.” - Francisco Sá Carneiro, ex-primeiro-ministro Português.
Nunca em São Tomé e Príncipe as palavras “juventude” e “renovação” estiveram tanto em voga como nos dias de hoje e tudo graças aos resultados surpreendentes das eleições autárquicas e legislativas que, segundo o senso colectivo, consagraram o ADI, sobretudo por causa da tão propalada renovação dos candidatos que apresentou ao eleitorado e penalizaram os outros partidos, sobretudo, afirma também o senso colectivo, por causa dos ditos “dinossauros”, gastos, cansados, ultrapassados e avessos à renovação das suas estruturas de direcção, que, mais uma vez, contrariando até, as expectativas dos seus militantes, decidiram submeter-se ao veredicto popular. No que me diz respeito, até acho que esse aspecto não foi assim tão relevante no desfecho dessas eleições, já que, por exemplo, da parte do ADI, o partido vencedor, a estrutura dirigente que saiu do ultimo congresso é praticamente a mesma dos últimos anos, com a diferença de ter havido alguma injecção de “sangue novo” na comissão politica e agora, com a provável nomeação de um jovem para a vaga do “adiado” Secretário-geral, já que ganharam as eleições e é conveniente assumir claramente a tal aposta na juventude. Como uma renovação pressupõe a saída de alguns, para a entrada de outros, creio que em última análise não podemos aplicar o adjectivo “renovado” ao ADI, que se limitou a contratar (e o termo “contratar” não é aqui utilizado de forma inocente) algumas jovens promessas da sociedade civil e de outros partidos para, estrategicamente se apresentar ao eleitorado de cara lavada chamando a si a personificação legítima da mudança. Não querendo fazer juízos de valor sobre quem quer que seja, sou obrigado a reconhecer que essa táctica até teve algum impacto, sobretudo junto da população urbana. Fora isso, como sempre, as duas campanhas do ADI foram centradas e centralizadas na figura do seu presidente e não me lembro de ver algum jovem a discursar nos comícios ou a fazer companhia ao Patrice Trovoada nos seus cartazes de propaganda política, com duas ou três honrosas excepções que ele fazia questão de mostrar ao povo nas passeatas, nos tempos de antena e nos comícios, qual “contratações galácticas” do ultimo defeso. Duvido pois, que a maioria da população tenha escolhido o ADI apenas por causa da dita renovação do partido, até porque, como é prática comum em São Tomé e Príncipe, a esmagadora maioria dos candidatos às Câmaras distritais e à Assembleia Nacional apenas são conhecidos pelos iluminados que se dão ao trabalho de consultar a lista publicada pelo Supremo Tribunal de Justiça. Quais foram então os verdadeiros motivos da vitoria do ADI? Isso são contas do outro rosário, a que me dedicarei numa dessas tardes de ócio. Retornemos então à questão da “renovação” e “juventude”.
Em condições normais, há três vias de um jovem atingir uma posição de destaque dentro de uma instituição, grupo ou mesmo estrutura familiar: Em primeiro lugar, pela conquista própria, em resultado da demonstração de competências e qualidades que marcam a diferença e o levam a uma promoção natural, inquestionável e sustentada dentro do grupo ou instituição; Em segundo lugar, através do beneplácito ou anuência do poder instituído, ou seja, com a devida “autorização” ou sugestão dos mais velhos, em resultado de uma necessidade momentânea, por questões de conveniência/interesse ou até pela imposição de preenchimento de cotas obrigatórias; Por ultimo, através da selecção natural, que “obriga” a substituição dos membros mais antigos por questões de envelhecimento avançado ou falecimento. Posso também considerar uma quarta via, em que os três factores acima elencados são combinados em doses variadas.
Naturalmente que na pratica as coisas não são assim tão lineares e as vezes há pormenores imprevistos e imprevisíveis que fazem alterar a ordem dos factores com influencia no resultado da equação e claro, as tais excepções que confirmam a regra. De qualquer forma, sou daqueles que defendem que apenas pela primeira via se tem alguma garantia de sucesso e afirmação sustentável dos jovens, e consequentemente da instituição que servem, já que, com raríssimas excepções, apenas pela primeira via se consegue dar o verdadeiro valor ao mérito e premiar a competência. No caso especifico do panorama político São-tomense, em que a promoção dos jovens no seio dos partidos políticos pode ter reflexos na governação do País, é pois, recomendável alguma prudência e responsabilidade na concretização do pressuposto da renovação. Porque se podemos nos dar ao luxo de arriscar irresponsavelmente na escolha e promoção de jovens quadros nas nossas empresas ou instituições privadas, com a desculpa do empreendorismo, revitalização ou seja lá o que for, assumindo os riscos inerentes a essa escolha e acatando as consequências negativas, caso as haja, o mesmo não devemos fazer, quando estão em causa os interesses públicos e os destinos de uma nação.
Posto isto, tenho que concordar com o autor da frase de abertura desse texto e dizer que a juventude tem que ser sim, inconformada, irreverente e até incómoda, se necessário, mas também tem que ser responsável, ponderada, convicta e paciente, acrescento eu. Principalmente aquela juventude com queda para a politica, a quem brevemente será entregue (ou conquistarão) as rédeas do destino de São Tomé e Príncipe. Inconformada na busca incessante de oportunidades para provar o seu valor e dar mostras de competências para assumir determinadas responsabilidades, mas responsável, para ter a noção das suas limitações e saber dizer “ainda não” sempre que a missão, apesar de aliciante, se manifestar demasiadamente complexa; Irreverente na forma de produzir novas ideias e novos conceitos, ou mesmo na procura de novas formas de abordar os conceitos e as ideias antigas, mas ponderada, para não cair na tentação de radicalizar as suas acções e excluir á pressa, a experiencia dos mais velhos, onde apesar de tudo, ainda se pode ir beber algumas coisas úteis; Incómoda na forma de se fazer ouvir e de exigir algum espaço para crescer e dar também a sua contribuição à causa, mas paciente, para não queimar as etapas necessárias para uma afirmação plena e sustentada no cenário político; Por ultimo, mas não menos importante, a juventude tem que ser convicta na defesa dos seus ideais, na procura de uma nova forma de pensar a politica e o País e não deixar-se enganar por truta e meia e contribuir assim, para a degradação de valores que hoje se verifica na nossa sociedade, em geral, e na politica, em particular, de forma a podermos todos esperar coisas bonitas e positivas daqueles que um dia já foram apelidados de “homens do amanha”.
Infelizmente, no estado actual das coisas, atendendo a ausência de convicções fortes e de objectivos comuns, e sobretudo, aos ziguezagues e reviravoltas inimagináveis na forma de pensar e de agir de grande parte dos aprendizes de políticos da nossa geração, acredito cada vez menos na possibilidade de sermos nós a mudar o rumo das coisas. Não creio pois, que se possa esperar coisas positivas de jovens que são colocados em lugares de destaque dos partidos, atendendo apenas à sua data de nascimento como critério de selecção, em resposta demagógica a um pedido de renovação vindo do eleitorado. Não creio também que se possa esperar coisas positivas de jovens que, sob o signo de uma ambição desmedida e sede pelo poder, forcem a sua escalada nas estruturas internas dos partidos políticos apenas porque são jovens e formados, negligenciando outros factores importantes, como a inexperiência, a imaturidade política e as vezes, uma incompetência preocupante que se nota à vista desarmada. E por último, não creio naturalmente que também se possa esperar coisas positivas de partidos políticos que se negam a renovar-se e a rejuvenescer-se de forma sustentada e equilibrada, e que apenas escancaram as janelas de oportunidades aos jovens, em caso de necessidade estratégica ou por desaparecimento físico de um dos membros com lugar cativo. Pelo bem de São Tomé e Príncipe, espero que o tempo, quiçá os contratempos, me mostrem que afinal estou errado e que ando aqui a debitar reflexões estúpidas, sem fundamentos nenhuns. Era bonito, não era?!
Nenhum comentário:
Postar um comentário