Ponto prévio: No texto anterior, falei da necessidade da renovação e rejuvenescimento da nossa classe política ser feita de forma sustentada e equilibrada, respeitando alguns critérios de selecção que nos garantam à partida, algum acréscimo de qualidade e a esperada evolução positiva do nosso cenário político com a introdução de novos (e mais bem preparados) actores políticos que possam fazer a diferença e romper com os maus costumes do passado. No fundo, explanei o meu ponto de vista sobre a forma que achava mais equilibrada e sustentada para que a ascensão da juventude no cenário político fosse mais profícua, quer para a própria juventude, quer para o País. Agora, irei mais fundo na análise dessa questão e, sob outra perspectiva, tentarei dar maior ênfase às dificuldade e aos entraves que muitas vezes alguns jovens, mesmo sendo competentes, qualificados e já com uma folha de serviço apreciável, encontram para singrar na cena política São-tomense, até porque, no primeiro texto, falei no abstracto e no geral, enquadrado num cenário de normalidade, que como sabemos nem sempre é o que se verifica na sociedade São-tomense.
“Nem sempre conseguimos construir o futuro para a nossa juventude, mas podemos construir a juventude para o futuro” – Franklin Roosevelt, ex-presidente dos E.U.A
Desde os primórdios da humanidade que o conflito inter-geracional é parte integrante e acutilante das sociedades humanas, manifestando-se em todos os sectores e actividades possíveis, variando a sua intensidade e visibilidade na proporção directa dos interesses que estejam em jogo. Nesse eterno conflito, normalmente os mais velhos encaram os jovens como uma ameaça aos seus domínios e utilizam todas as artimanhas para tentar impedir ou no mínimo, retardar ao máximo o alcançar das suas pretensões, o que leva a que muitas vezes a transição não seja feita de forma totalmente pacífica.
Em São Tomé e Príncipe, não é preciso fazer-se uma análise muito profunda à nossa sociedade para percebemos que é na política onde esse choque de gerações se manifesta em todo o seu esplendor, e nos dias de hoje, com mais intensidade do que nunca. Num lado, temos os anciões lá da tribo, serena e confortavelmente instalados na cubata do poder e relutantes em “largar o osso” por iniciativa própria e no outro, temos os jovens aspirantes, cada vez mais “olho aberto”, mais inconformados e impacientes, a exigirem por direito próprio, um lugar ao sol. Num lado, temos a experiencia, a maturidade e a casmurrice a dizerem constantemente que ainda têm muito a dar e que o seu prazo de validade ainda não expirou, reivindicando “o direito inviolável” à oportunidades consecutivas para continuar no poleiro, dizendo à juventude para ter calma, para crescer e aparecer, que a sua hora vai chegar (mas não dizem quando), e no outro lado, temos a irreverência, a impetuosidade e o fervor juvenil, que exige a renovação e clama por oportunidades para provar que já está preparada para dar um contributo frutuoso à causa e que pode fazer melhor do que os mais velhos. No meio de tudo isso, temos os outros membros da tribo, a maioria silenciosa, que ao fim de 35 anos de muitos sonhos e anseios adiados, começam também a manifestar sinais claros de alguma preferência por novos rostos, novas mentes e consequentemente, novas formas de se fazer política. Como sair então desse imbróglio?
Tal como acontece na natureza, nos casos daqueles animais que vivem em comunidade, submetidos à uma liderança bem identificada, sempre que um “mancebo” quiser por em causa a liderança do macho Alfa, tem que desafia-lo para um mano-a-mano em que o vencedor assume (ou reassume) automaticamente o lugar de líder até ao próximo duelo. Nesses casos, a iniciativa do duelo nunca parte do líder, e os aspirantes só avançam quando sentem que estão suficientemente preparados enfrentar o “chefe” com algumas hipóteses de sucesso. Era também assim que as coisas se resolviam entre nós, humanos, há alguns milénios atrás, antes de descobrirmos que podíamos usar melhor a “mona” e consequentemente, criar algumas regras para tornar a nossa vida em comunidade mais civilizada.
Trouxe esse exemplo à baila para, fazendo as naturais adaptações para a nossa realidade política, reforçar o meu ponto de vista sobre a necessidade de ser os “mancebos” a terem uma atitude proactiva nesse “combate” e também focar a necessidade de estarem minimamente preparados para enfrentar o poder instituído com algumas hipóteses de sucesso, caso contrário, perecerão no campo de batalha ou, se por um golpe de sorte, forem bem sucedidos, o seu reinado não será sustentado em alicerces profundos, logo, não terá os efeitos esperados e será efémero.
Não foi por acaso que escolhi uma célebre frase do Roosevelt sobre a juventude para iniciar o meu texto, a verdade é que os nossos dirigentes têm se esquecido de preparar a juventude para o futuro, sobretudo em termos de liderança política, talvez por esquecimento, talvez por desleixo ou talvez por conveniência, de modo a mantê-la impreparada, acomodada e eternamente dependente deles, para não ousarem um dia rebelarem-se e fazer-lhes frente. Felizmente para os jovens, as recentes eleições colocaram definitivamente o assunto da renovação na agenda de todos os partidos políticos São-tomenses e de repente, algo que já devia ser debatido há muito tempo, de forma equilibrada e concertada, de modo a se fazer uma transição gradual onde seria de todo interessante mesclar a experiencia dos mais velhos com alguma imaturidade dos mais jovens, ganha contornos de urgência, e o partido que não for suficientemente esperto para apanhar o comboio, mesmo já em andamento, corre o sério risco de ficar para trás, ou de sofrer uma debandada sem precedentes dos seus militantes mais novos. Esperemos pois, as cenas dos próximos capítulos para sabermos quem realmente escutou o sussurro da maioria silenciosa.
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