quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

CONVERSAS SOLTAS XI - Sobre a emissão dos primeiros bilhetes de identidade na Ilha do Principe.

Dois São-tomenses residentes no estrangeiro há algum tempo, comentavam assim uma notícia que fez manchete ontem em alguns órgãos de comunicação social lá da terra:

1 – Ontem viveu-se um momento histórico na ilha do Príncipe…

2 – A sério?! O quê que aconteceu de especial? Espera ai, deixa-me adivinhar… Foi declarada a independência da Ilha?

1 – Deixa de gozo, pá.

2 – Deixa-me ver então…Não me digas que finalmente chegou o tal barco para fazer a ligação inter-ilhas?

1 – Olha, nessa quadra festiva isto é que era uma prenda jeitosa para aquela população martirizada, mas também não desta que se concretizou esse sonho.

2 – Epá, assim a vista desarmada não vejo mais nada que pudesse traduzir-se num momento histórico para o Príncipe na conjuntura actual…Será que se concretizou aquela cena do Príncipe se tornar património da humanidade?! Ou ganharam algum prémio internacional de turismo?

1 – Ái se a tua boca fosse certa…a vida deles pegava.

2 - Diz lá então de uma vez, o que aconteceu de tão marcante assim?

1 – Meu caro, é melhor sentares-te para não caíres de lado: Ontem, dia 16 de Dezembro de 2008, 33 anos e alguns meses depois da nossa independência, sua excelência o Primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Joaquim Rafael Branco emitiu os dois primeiros bilhetes de identidade de cidadão nacional na ilha do Príncipe.

2 – CREDO!!!! Estás a falar a sério? Ainda não se emitiam bilhetes de identidade no Príncipe?

1 – Pois é meu caro, também fiquei assim, suinamente aparvalhado, quando li a notícia no Tela nón. Mas é a pura verdade. É para termos uma ideia da situação de abandono a que estão votados os nossos compatriotas no Príncipe.

2 – Esta é uma situação que devia nos envergonhar a todos enquanto povo de uma Nação soberana. Em pleno século XXI e ter cidadãos que nem tinham acesso ao cartão oficial de identidade?! Incrível! Como é que o pessoal fazia para tratar o B.I? Tinham que ir a São Tomé, como fazem para tratar de tudo o resto, não é?

1 – Duvidas? Mas só aqueles que podiam pagar a passagem e apenas em situação de necessidade, o resto limitava-se a ter a cédula de nascimento, acho eu.

2 – Ou seja, a maioria… Já viste a quantidade de pessoas que passaram uma vida toda sem ter direito ao seu “papel cu foto”?! Podemos dizer agora que mais vale tarde do que muito mais tarde, mas será que isso era assim uma coisa tão complicada e difícil que só ao fim de 33 anos de independência e 13 Governos depois se conseguiu realizar tal façanha? Sinto-me revoltado com essas situações. O tempo vai passando e só lentamente e a muito custo vamos resolvendo os problemas básicos que supostamente deveriam ter nos atormentado apenas nos primeiros anos do pós independência. Nós todos, cada um na sua área e a sua maneira, devíamos e podíamos ter feito muito mais por São Tomé e Príncipe. Não me conformo!

1 – Pois é meu caro, temos a ousadia de querer realizar tantos projectos megalómanos quando ainda nos deparamos com problemas básicos como esse…Queremos fazer portos de agua profunda, criar zonas francas, construir paletes de hotéis para atrair mais turistas, abraçar o mundo e o reverso da medalha é o que se vê: Não temos hospitais em condições, não temos escolas e professores em condições, não temos estradas em condições, mais de metade da população não tem acesso a agua canalizada e a electricidade e faz as suas necessidades fisiológicas ao ar livre no mato ou em latrinas e nem conseguimos resolver a questão da ligação entre as duas parcelas principais do nosso território, isso só para citar algumas questões básicas importantíssimas para o próprio desenvolvimento do país e do povo que a essa altura já devíamos ter resolvido.

2 – Resolvido? Achas?! Tudo o que citaste são coisas que dão muito trabalho a resolver e muito "prejuízo", quando a lógica deles é precisamente o contrario: Fazer pouco e ganhar algum por fora. Isto que andamos a presenciar no nosso País, meu caro, é sobretudo o resultado da política do imediato que tem sido apanágio de todos os Governos que S.T.P conheceu até hoje, uns por sua própria iniciativa, ou por falta dela e outros por se verem obrigados a isso pelas circunstancias do momento. É o resultado da politica do plantar hoje e querer colher já amanha, antes de serem corridos do poder. Ninguém pensa a longo prazo, ninguém se atreve a conceber projectos estruturados e sustentados que sobrevivam ao prazo de validade do seu governo, pois têm medo que outros que lhes sucedam venham a ficar com os louros das obras começadas por eles e se há coisa que o nosso tradicional olho cheio não suporta, é ver outras pessoas a brilharem em cima dos palcos que nós construímos, mesmo que esse palco seja algo fundamental para o bem-estar colectivo.

1 – Pois é, meu caro, tocaste agora no x da questão: O nosso tradicional olho cheio.
Nunca tinha pensado nesses assuntos sob esse prisma, mas tenho que admitir que muito dos desentendimentos e da falta de união que há entre os São-tomenses a todos os níveis e sobretudo a nível do poder, podem se dever a esse problema.

2 – Meu caro, a questão do olho cheio tem muito mais peso do que tu imaginas nos problemas que enfrentamos e a prova disso é o que se tem passado actualmente em dois dos partidos que formam a coligação que esta no poder: No MLSTP sabe-se que há um mal-estar profundo por parte de alguns barões do partido que não foram convidados para a ceia do senhor e queriam entrar a força toda, nem que fosse como patos. Aposto que esses gajos até esfregariam as mãos de contentes se o Branco caísse, não se importando se era bom ou não para o País ter mais um governo que não atingisse a puberdade. No MDFM é a pouca vergonha que se tem assistido desde a queda do Tomé vera Cruz, culminando agora com destituição do Minho de uma forma inacreditável. Agora diz-me, se as pessoas nos seus próprios partidos não são capazes de gerarem consensos dentro do espírito democrático e remarem todos para o mesmo lado, como é que podem levar o País a bom porto?

...E com esta pergunta no ar, deram por terminado este assunto, ficando cada um a pensar nos vários “momentos históricos” que ainda teremos que viver para atingirmos um patamar de desenvolvimento mínimo no nosso S.T.P.


Queluz, 17/12/08

domingo, 14 de dezembro de 2008

SIM, ELE CONSEGUIU!

“ Disseram que este dia nunca chegaria, que ambicionávamos muito e que as nossas expectativas estavam muito altas…”

Foi assim que Barack Hussein Obama , o agora presidente eleito dos EUA, começou o seu discurso de vitória nas primárias Democráticas do Iowa no dia 3 de Janeiro de 2008, um estado em que 98% da população é branca.

Já nessa altura, quase um ano depois de ter anunciado a sua candidatura à presidência dos EUA e de ter posto em marcha aquela que veio a ser reconhecidamente a mais incrível, inspiradora, galvanizadora, organizada, profissional e a mais bem financiada campanha eleitoral de todos os tempos nos EUA, notava-se que algo de muito grande e diferente estava a acontecer na América. Apenas os cínicos e os apóstolos da desgraça se recusavam a ver que um negro, filho de um imigrante Africano “negro como o alcatrão” e de uma mãe Americana “branca como a neve” e com um nome nada popular nos dias de hoje na América, começava a dar mostras de que estávamos no inicio de um movimento que iria “varrer” a América de Este a Oeste e fazer estremecer as bases mais conservadoras do eleitorado Americano, revolucionando de forma radical a mentalidade do povo Americano no geral e transformar essa eleição nos EUA na primeira eleição global, seguida e debatida de uma forma nunca antes vista nos quatro cantos do Mundo.

Muitos de nós jamais sonhou presenciar este momento, por toda a carga histórica que ele carrega e por tudo que os negros Americanos passaram até ao século passado e pelas divisões e feridas que pensávamos ainda estarem abertas nas relações entre os negros e brancos na única superpotência mundial. O próprio Obama sempre admitiu que ele não era o candidato mais provável, pela sua historia de vida, pelas suas origens pobres e por não ser alguém do “stablishement” em Washington e embora nunca o referisse, sabia também que a cor da sua pele podia pesar na escolha final de um eleitorado maioritariamente branco. Por isso desde o início, a sua campanha foi focada na sua mensagem de esperança, nas suas ideias de mudança, na visão dos EUA como um só País e um só povo e não o conjunto de estados “vermelhos” e estados “azuis”, na nova forma de fazer politica em Washington e nunca na questão racial porque ele queria ser o candidato que de todos os Americanos e não apenas dos Afro-americanos, que representam apenas 13% da população dos EUA. Até mesmo os seus adversários raramente usaram esse tema na campanha com medo de que o feitiço se virasse contra o feiticeiro.

Ele lutou contra tudo e todos, rompeu barreiras, os seus discursos eloquentes cativaram centenas, milhares e depois milhões de pessoas nos EUA e pelo mundo fora, convenceu os Afro-americanos que no início hesitaram em apoiar “mais” um candidato negro que não passaria das primarias do seu partido, convenceu os hispânicos que maioritariamente apoiavam a Hillary Clinton, convenceu as mulheres, cativou os jovens, reuniu a sua volta o maior numero dos independentes, convenceu muitas pessoas que nunca haviam votado e nem participado em nenhuma eleição antes e no fim dessa longa jornada, ele conseguiu! Não por ser negro, porque outro politico negro qualquer nesse momento não tinha nenhuma hipótese de sucesso, não por apenas falar bonito, mas pela consistência das suas mensagens, pelo seu carisma, pela sua inteligência, pelos planos que tem para a América e o para o mundo, pelos valores que defende, por ter inspirado as pessoas fazendo-as sonhar com dias melhores e por ter feito os Americanos verem para além da cor da sua pele. O caminho será longo e difícil como ele mesmo reconheceu no seu discurso de vitoria, haverá quem o quererá ver falhar e há muitas decisões difíceis a tomar, mas acredito que não fará pior do que o seu antecessor e só por isso, já terá valido a pena ele ter conseguido.


Sim, ele conseguiu!
Ele conseguiu romper a barreira racial numa América onde a memória dos séculos de escravatura e das clivagens causadas pelos longos anos de luta pela conquista dos direitos cívicos por parte da minoria negra ainda faziam pender sobre a sua cabeça o espectro da desconfiança e do preconceito por parte da maioria branca.

Sim, ele conseguiu!
Ele conseguiu ultrapassar a questão do nome que em teoria duplamente o penalizava na América pós 11 de Setembro: A associação que muitas mentes maldosas fizeram do seu nome a Osama, conotando-o ao terrorismo (chegaram mesmo a chamar-lhe terrorista em alguns comícios de McCain e Palin) e do seu nome do meio ao falecido ditador do Iraque, sadan Hussein, sem mencionar a questão da sua religião por causa do nome “muçulmano” Hussein. Como para a maioria dos Americanos, Os muçulmanos são todos terroristas…

Sim, ele conseguiu!
Ele conseguiu “bater” a toda-poderosa ex Primeira-dama e Senadora Hillary Clinton numas das eleições primárias mais emocionantes e disputadas de sempre no partido Democrático. Partiu como outsider, sem apoios importantes e sem dinheiro, apenas com uma mensagem algo vaga de mudança e esperança e com a experiencia de dois anos como Senador dos EUA e alguns anos de trabalho como organizador comunitário nos Bairros problemáticos de Chicago, experiencia essa que se veio revelar fundamental na forma como delineou as estruturas bases da sua campanha.
Hillary tinha o dinheiro, o nome e o apoio da maior parte do Partido Democrático e era dada como imbatível, não só nas primárias democráticas, como nas eleições gerais. Esqueceram-se os analistas que nessa coisa chamada Democracia é o povo quem mais ordena.

Sim ele conseguiu!
Ele conseguiu enfrentar com estrondoso sucesso a maquina trituradora Republicana que como sabíamos de antemão, iria usar de todos os meios para o atacar e o deitar abaixo como fizeram antes com Al Gore em 2000 e principalmente com John Kerry em 2004.
Disseram que ele era inexperiente e ingénuo, que não estava preparado para ser comandante em chefe dos EUA por causa das suas posições sobre a guerra do Iraque e da nova forma de abordar a politica externa dos EUA, pondo a frente da afirmação militar, a diplomacia. Disseram que ele era uma celebridade com ideias vagas, chegando mesmo a compara-lo com as “desorientadas” Paris Hilton e Britney Spears. Chamaram-lhe Muçulmano e Terrorista, mostrando fotos suas usando um turbante aquando da visita que fez ao Quénia e mais tarde relevando a sua suposta amizade com um ex terrorista Americano que na década 60 espalhou algumas bombas em Washington quando Obama tinha…8 anos. Questionaram o seu Patriotismo, lançaram suspeitas sobre a origem do dinheiro que financiou a sua campanha, questionaram de forma pouco ortodoxa as suas politicas na saúde, na educação na energia e principalmente na economia. Até contrataram o canalizador Joe para fazer campanha por eles. Por ultimo, já em desespero, sugeriram que ele era Socialista, o que na América é entendido como comunista e um comunista na casa branca é algo que os Americanos nem nos piores pesadelos admitiam.

Sim, ele conseguiu!
Ele conseguiu montar uma extraordinária máquina eleitoral financiada por cerca de 700 milhões de dólares doados por mais de 3 milhões de pequenos doadores e rejeitou o dinheiro dos “lobistas” de Washington, algo inédito até hoje. Ele conseguiu reunir uma incrível rede de voluntários e implantou sedes de campanha nos 50 estados dos EUA em números nunca antes vistos. Ele conseguiu encher os pavilhões, os estádios e os parques por onde passou em campanha e onde as pessoas esperavam horas nas filas só para o ouvirem. Ele conseguiu reunir o apoio dos maiores jornais e sindicatos dos EUA. Ele conseguiu conquistar o apoio de grandes figuras do partido Republicano e de muitos eleitores republicanos também. Ele conseguiu ser o preferido de muitos dos grandes lideres mundiais que clamavam por uma mudança urgente na casa branca depois do desastre que foi a administração Bush e no fim ganhou as eleições de forma convincente e incontestável, com dois terços do colégio eleitoral, com 53% do voto popular e com vitorias em 29 dos 50 estados dos EUA, incluindo alguns bastiões dos Republicanos onde os democratas não ganhavam há mais de 40 anos.

SIM, ELE CONSEGUIU!!!!


Queluz, 5/11/08

CONVERSAS SOLTAS X - Sobre o naufrágio do "thereze" a caminho da ilha do Príncipe em 16/09/08.

Dois compadres conversavam na ilha do Príncipe dias depois do naufrágio do “Thereze”, sendo que a mulher de um deles se encontra entre as 14 pessoas ainda desaparecidas:

COMPADRE 1 – Então compadre, como é que tens segurado as pontas? Já há alguma novidade sobre a comadre Maria?

COMPADRE 2 – Até agora nada, não há noticias nenhumas … confesso que começo a perder a esperança… Já se passaram 3 dias e nenhum sinal…Com as condições que o País tem para esse tipo de busca e salvamento, acho que é melhor começar a mentalizar-me de que ela se foi de vez e ganhar coragem para contar aos miúdos…

C1 – Vai ser muito difícil para eles, tão novos e perder assim a mãe, desta forma tão absurda… Mas eles não desconfiam de nada? E o compadre? Como tem gerido essa situação?

C2 – Tem sido muito complicado meu amigo, olhar para eles e não poder dizer a verdade, inventar desculpas para o atraso da mãe com a esperança de que ela ainda fosse encontrada com vida e conter toda a tristeza e revolta que vai dentro de mim…Mais 14 vidas se perderam por causa ganância de uns e da incompetência e desinteresse de outros…Quantas mais vidas serão necessárias para que se resolva de uma vez por todas a situação da ligação entre São Tomé e o Príncipe? Será assim tão difícil comprar um barco em condições?


C1 – Tens toda razão… toda gente está revoltada com esta situação…Não se compreende como é que 33 anos depois da independência nenhum Governo até hoje tenha feito desta questão uma prioridade… Se somos um mesmo País, um mesmo povo, como se explica que ninguém tenha resolvido a questão dos 150 km de mar que nos separam?

C2 – É muito simples meu caro, até hoje nenhum governante ou familiares directos desses governantes morreram num naufrágio…até hoje nenhum deles sentiu na pele o que eu e os outros estamos a sentir …Até porque eles não fazem essas viagens de barco, têm sempre aviões a disposição para quando precisam vir ao Príncipe na altura das campanhas, na festa do Santo António e para passarem fins de semana no ilhéu Bombom com as amantes e os estrangeiros ricos… Não é apenas nessas alturas que se lembram do Príncipe!? Então por que carga de água achas que eles iam se preocupar com o resto? Nós pequenos que precisamos ir a São Tomé e não temos dinheiro para alugar aviões é que temos que chamar Deus e enfrentar o mar em barcos ferro-velho sobrelotados …

C1 – Pois é…Um dos sobreviventes disse que o barco ia tão cheio que só havia lugar para ele na casa de banho…incrível! Como é que o pessoal da capitania dos portos e da polícia fiscal deixou sair o “Therese” nestas condições? Será que foi mesmo por incompetência ou alguém anda a facturar a custa das desgraças dos outros? E o Comandante? Será que meia dúzia de tostões cegaram de tal forma o indivíduo que ele tenha esquecido das noções básicas de navegação e posto em risco a sua própria vida? Para o barco se ter afundado há apenas 15 km da costa é porque estava mesmo cheio até boca e nem deu para ir mais longe…Isso não pode passar em branco, os culpados têm que ser chamados a responsabilidade…

C2 – Ouvi dizer que já tinham prendido o Comandante e alguns elementos da Capitania dos portos e da Policia Fiscal…Mas se for verdade, será que isso vai para frente? Será que desta vez os culpados serão punidos?! Isso serve para atenuar a minha revolta, mas não me consola, não traz de volta a minha mãe dos meus filhos, não traz de volta os familiares das outras pessoas envolvidas…Não foi o primeiro, nem o segundo barco a afundar pelas mesmas causas, as pessoas responsáveis já deviam ter sido presas naquela época para dar o exemplo e a essa altura já deviam existir condições de fiscalização tanto a nível das embarcações como da quantidade de carga e passageiros para que situações dessas não se repetissem…Não me conformo compadre, não me conformo mesmo.


C1 – Compadre tocou num outro ponto importante, o problema não se resume apenas ao transporte de pessoas…há o lado material da coisa… Já viste a quantidade de combustível, viveres e até materiais de construção para o Hospital que foi a pique? Para já vamos ter mais umas semanas sem energia com as consequências que já sabemos e será que alguém vai se responsabilizar por esses danos materiais? E falando nisso, não querendo dizer que a vida humana tenha um preço, será que vai haver indemnizações pelas mortes causadas? Acho que o nosso Governo regional deve ir em frente com a questão de meter um processo judicial às pessoas responsáveis pelo sector, com certeza que terão o apoio de toda a população do Príncipe nesse caso.

C2 – Sem duvida, quanto mais não seja como forma de pressionar o actual Governo a resolver essa situação, já que o Governo Regional não tem autonomia financeira e capacidade para ser ele a resolver a situação, ao menos que pressione o Governo central a agir, a agir rápido e bem, até porque muito do atraso que o Príncipe tem em todas as áreas deve-se também ao problema da falta de ligações marítimas seguras, periódicas e acessíveis a São Tomé…

C1 – Por acaso ouvi a falar na compra de um barco em segunda mão na Grécia e acho que a STPairways vai começar a efectuar voos regulares entre as ilhas já no próximo mês… Pode ser que estejamos a assistir a uma viragem de 360 graus nesta questão.

C2 – Um barco em segunda mão??? Se eles dizem em segunda mão, deve ser já em terceira ou quarta mão… e depois não te esqueças que o responsável pela compra tem que tirar a sua comissãozinha da praxe…No fim só vai sobrar dinheiro para comprar mais uma sucata para ir ao fundo do mar daqui há uns anos… Não entendo porque que não se faz um esforço e compra-se um barco novo para durar uns bons anos? Se pedimos credito para tantos projectos com menos impacto nas populações, porque não investir num barco novo e mais seguro? Porque não facilitar a vida da tão maltratada população do Príncipe? Quanto aos voos da STPairways, achas que o povo pequeno vai ter dinheiro para comprar as passagens?

... E seguiu-se um longo silencio entre os dois, com o compadre 2 a tentar controlar a sua revolta e a pensar na forma menos dolorosa de dar a noticia aos seus filhos.

Lisboa, 19 de Setembro de 2008

CONVERSAS SOLTAS IX - Sobre a queda do governo de Patrice Trovoada.

Dois São-tomenes radicados no estrangeiro trocavam amigavelmente um “dedo de prosa” quando veio a baila o assunto da queda do Governo de Patrice Trovoada:

São-tomense 1 – Já sabes da última? O Governo do Patrice caiu…

São-tomense 2 – JÁ CAIU?! O Fradique é mesmo um gajo Margoso…Já tinha feito isso com o Gabriel Costa.

1 – Nada disso, desta vez o homem esta inocente, foi o PCD que lixou o Patrice, com ajuda do MLSTP.

2 – Ohhhh, múndu bilá, o PCD e o MLSTP agora são amigos? Quem diria…

1 – Só se forem amigos da onça…Nada disso, pá! O MLSTP apenas aproveitou o clima de instabilidade que havia no lado da coligação, que foi visível na altura da votação do orçamento e apresentou uma moção de censura ao Governo. O PCD aproveitou a onda e aplicou o golpe de misericórdia.

2 – A sério? Nem deixaram o homem molhar o bico…Essa coisa tem o dedo do Delfim Neves, eu sabia que o Delfim não ia deixar isso barato…

1 – Podes crer…Eu nem sei como é que o PCD aceitou entregar o cargo de primeiro-ministro ao Patrice, na altura achei muito estranha a passividade do Delfim depois de saber que o Patrice não o queria no Governo.

2 – Meu caro amigo, já devias saber que os políticos em São Tomé, têm razões que a própria razão não entende. Mesmo essa situação de entregar ao líder do partido menos votado a chefia do Governo já era uma brincadeira de muito mau gosto e uma grande falta de respeito aos eleitores. Se o povo quisesse que o Patrice fosse primeiro-ministro, teria votado em massa no ADI.

1 – Tens toda razão! Esses gajos arranjam sempre uma maneira de distorcer a vontade do povo e da maneira que esse processo foi conduzido, só podia acabar mal. Mesmo a relação entre o Patrice e o Fradique não era das melhores depois do que andaram a falar um do outro nas eleições presidenciais. Como é que poderia haver uma boa coabitação entre os dois? Ou melhor, como é que foi possível um aceitar ser primeiro-ministro de outro depois de tudo que aconteceu no passado recente, quer entre eles, quer entre o Fradique e o Trovoada pai? Tens toda razão, deve haver interesses tão fortes nestas jogadas que nem nos passa pela cabeça e não estou a falar dos superiores interesses do povo, como eles costumam apregoar.

2 – Tocaste no X da questão! Eu contava que este Governo não desse em nada por causa da relação Patrice-Fradique, achava que mais cedo ou mais tarde, as suas divergências pessoais e a sede de protagonismo patente nos dois iriam conduzir à queda do Governo. Nunca me passou pela cabeça que fosse o PCD o detonador desta crise por causa da aparente dependência financeira que têm do Fradique e do MDFM. Mais facilmente apostava no MDFM a mando do Fradique do que no PCD.

1 – Falando em dependência financeira, só agora reparo que o PCD arriscou muito ao ir contra a vontade do Fradique e do MDFM. Isso vem por em causa a coligação MDFM-PCD. Será que foi um risco bem calculado? Ou Foi uma jogada suicida do PCD só para satisfazer o ego de alguns dos seus dirigentes, nomeadamente o Delfim?

2 - Tudo é possível. Pensando bem, o PCD realmente teria muito a perder se tivesse agido por sua auto recriação, acho que o próprio Fradique pode estar por trás desta crise. Pode ter mandado avançar o PCD em vez do MDFM para não ficar mal na fotografia depois do erro de casting que foi a nomeação do Tomé Vera Cruz como Primeiro-ministro. Assim desgastava a imagem do Patrice e teria uma justificação perante o povo e perante a comunidade internacional para avançar para umas eleições antecipadas e tentar obter uma maioria estável para a sua coligação para não ter que aturar mais o ADI e o seu líder, contando com o facto do MLSTP estar em reestruturação e aparentemente falido.

1 – Epá, o quê que andaste a ler ultimamente? De onde é que tiraste esses absurdos todos? E mesmo que isso pudesse ser verdade, não acredito que da cabecinha do nosso Presidente saísse uma estratégia assim tão bem delineada. Isso é muita fruta para ele.

2 – Como tu mesmo disseste, há interesses em jogo que nem nos passam pela cabeça e quem conseguiu chegar ao poder, vai fazer tudo para não largar o osso e se puder chucha-lo sozinho, melhor ainda! Mas ao menos o PDC apresentou razões validas para abandonar o barco?

1 – Falaram que havia uma forte suspeita sobre a figura do Primeiro-ministro, que ele recebia visitantes estrangeiros na calada da noite sem a presença de outros membros do governo, que estava a esvaziar a influencia dos ministros do PCD no Governo, que mamava 200 litros de gasóleo do estado por dia…

2 – 200 litros de gasóleo por dia???? Isso é muito gasóleo pá, e eu que dizia que não tinham deixado o homem molhar o bico…isso não foi molhar o bico, foi mesmo mergulhar o bico todo no gasóleo do estado. O gajo vai abrir uma bomba de gasolina ou que?

1 – E o pior é que ele não desmentiu nenhuma dessas acusações. Disse que como Primeiro-ministro tinha direito a certas regalias…

2 – Certas regalias?! Como dizem os brasileiros: Bota regalia nisso! E o Fradique? O quê que diz desta trapalhada toda?

1 – O Fradique está em Taiwan para a tomada de posse do novo Governo, disse o que tinha que dizer, que é mau para o País, que não sabe o quê que vai dizer aos seus amigos Taiwaneses, que os políticos andam a brincar, que vai ver o que se pode salvar enfim, aquelas frases de ocasião para inglês ver. Deve ter se esquecido que ele próprio já deixou cair uns tantos Governos.

2 – Pois é, na altura se calhar não foi mau para o País…Epá, já que ele está em Taiwan, devia aproveitar para mendigar uns euros para financiar já as eleições que se adivinham.

1 – Pois é, Vinha mesmo a calhar. Até já imagino o número de pessoas que estão a esfregar as mãos de contentamento a espera de safarem as suas teses com novas eleições.

2 – Podes crer…e quando é que o homem volta?

1 – A viagem era para um mês, ia passar também pelo Japão e Itália, mas parece que ele volta antes do fim do mês…

2 – Fogo, 1 mês a torrar o pouco dinheiro que o estado tem em viagens que de certeza não trazem nada de muito vantajoso para o País…Mas enfim, como disse o Patrice, os governantes têm direito a certas regalias, não é?


…E mudaram o rumo da conversa, pensando no que poderiam fazer para alterar o destino trágico a que está condenado o NOSSO SÃO TOMÉ E PRINCIPE se não houver mudanças radicais, sobretudo a nível da mentalidade das pessoas…Tanto dos que Governam, como dos que são Governados.


Lisboa, 21 de Maio de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

CONVERSAS SOLTAS VIII - Sobre a polemica da marcação das eleições lesgislativas antecipadas de 2006

Dois Jovens quadros São-Tomenses recentemente regressados ao país, trocavam dois dedos de conversa numa dessas tardes de vagabundagem que o desemprego lhes permite:

Jovem 1 – O Fradique lá decidiu marcar a data das eleições…

Jovem 2 – É verdade, confesso que o homem apanhou-me de surpresa, estava mesmo a contar que ele marcasse as eleições com antecedência de 24 horas como fez transparecer o seu acessor.

J 1 – Achas? Isso seria o cumulo da irresponsabilidade, aí é que o Pais se tornava motivo de chacota internacional com todo mérito. Eu até agora também não entendi o porque de tanto suspanse, mas acho que ele não seria capaz de tamanha façanha. Aquilo das 24h foi brincadeira, até apetece-me rir de tão caricata que a situação seria.

J 2 – Rir? Isso era caso para chorar desalmadamente meu amigo. Mas depois de tantas asneiras que foram produzidas lá pelos lados do palácio cor de rosa e da apatia geral que tem norteado as atitudes dos restantes políticos e órgãos de soberania em resposta a esses actos, a culminar com a situação do Ministro Pequeno, acho que até houve falta de coerência da parte do nosso Presidente nessa decisão.

J 1 – Como assim?

J 2 – No seguimento da linha de actuação que tem sido apanágio do nosso Presidente nesses anos e tendo em conta que ele interpreta a lei e a constituição da forma que o convém e ninguém o contraria, nada mais natural que ele desse mais um torcicolo no pescoço da lei e nos brindasse com uma eleição em cima do joelho.

J 1 – Realmente essa historia do Ministro Pequeno é uma aberração politica de todo tamanho, eu no lugar dele não me sujeitava a isso e saia pelos meus próprios pés há muito tempo, ainda mais depois de ter mentido com olho aberto e de o relatório da inspecção geral das finanças ter concluído que houve indicio de corrupção neste caso. Sinceramente não sei o que pode levar o homem a sujeitar-se a um desgaste desses. Ele até era um gajo que eu tinha em boa conta.

J 2 – Sungué, cuá cu búdu cá tlabáééé…Ele quer aquele taxo de Embaixador nos EUA, por isso tem que fazer o que o chefe manda, mesmo que não o queiram no Governo. Francamente, só mesmo em STP é que há desses bobos e ainda vem o nosso Presidente dizer que é um homem de estado.

J 1 – Mas será que depois dessa situação toda, os EUA ainda aceitam a sua acreditação como embaixador?

J 2 – Meu amigo, como dizia o outro: Desde que vi um porco a andar de bicicleta nada mais me espanta, ainda mais na politica, e ainda mais na politica de STP, onde os malabarismos mais incríveis são feitos a luz do dia nas barbas do poder jurídico que anda em pleno sono suíno. Depois não se esqueças que agora os EUA têm que zelar pelos seus interesses no País, por isso…

J 1 – Já apanhei, há grandes probabilidades do homem ainda vir a ser o nosso embaixador nos EUA…Enfim, "são os probremas que tamos com ele".

J 2 – Mudando de assunto, já te decidiste em que partido votar? Olha que há muito por onde escolher…

J 1 – É verdade sócio, mais de 12, não é? Quem diria que havíamos de chegar a esse ponto. Numa democracia é até saudável que haja uma pluralidade de ideais e de forças politicas, mas 15 partidos para 1001 km2 de terra e cerca de 180000 habitantes? E eu que criticava os nossos amigos da Guiné-bissau.

J 2 – E não te esqueças do desfalque que causará ao tesouro publico a subvenção a tantos partidos políticos. Isso só vem mostrar o quanto é difícil se criar consensos entre os homens hoje em STP, mais um problema que teremos fatalmente que ultrapassar se quisermos lançar as bases para a construção de um futuro melhor. Aliás, esse é mesmo o problema fundamental numa sociedade tão pequena como a nossa em que todos se conhecem e até têm laços de parentesco ou de amizade, mas parece que muitos transformam-se em bichos quando está em jogo o a conquista do poder.

J 1 – Já imaginaste o imbróglio que será se houver uma distribuição equitativa dos votos e nenhum partido conseguir uma votação expressiva? Com as desavenças, trocas de acusações e falta de entendimento que tem havido entre eles, lá teremos mais uma legislatura com confusões, desacordos e com os dias contados até uma próxima eleição antecipada. Coitado do nosso País…

J 2 – É com o coração afogado a tristeza e desilusão que tenho que concordar contigo. E se em Setembro for eleito um Presidente de cor politica diferente da maioria do Governo, coitados, nem um ano duram e lá volta o Pais para as eleições antecipadas, para os Governos de iniciativa presidencial e outras palhaçadas comuns nessas situações que infelizmente já se tornaram moda no nosso STP.

J 1 – E mais uma vez veremos reformas urgentes adiadas, projectos por concluir, as condições de vida das populações a degradarem cada vez mais e blábláblá…Até que os Homens se decidam a agir de boa fé, a por de parte as querelas pessoais e de uma vez por todas trabalharem numa base de entendimento colectivo rumo ao desenvolvimento do País.

J 2 – É…Eles ainda não perceberam que o caminho é esse e que se STP estiver bem, os São-Tomenses, por inerência estarão bem também.

...E Seguiram os dois o seu caminho, pensando na possibilidade de se "colarem" ao partido favorito de forma a garantirem um "tacho" no futuro.

Lisboa, 14 de Fevereiro de 2006

CONVERSAS SOLTAS VII - Sobre a primeira sublevação dos "ninjas".

Dois São-tomenses bem formados e observadores atentos da realidade sócio-politico-economica do País, comentavam assim o filme “Ninjas Vs A. Correia”:

São-tomense I – Epá, já viste? Os ninjas conseguiram correr com o Armando Correia.

São-tomense II – Eu não tinha te dito isso já? Estava mesmo a ver que as coisas iam acabar assim, até demorou muito…

S. I – Parece que o Governo ficou com medo e teve que aceitar as exigências deles. Achas que não fizeram bem?

S. II – Epá, foi bom ter-se evitado que a coisa complicasse mais, agora se isso foi feito da melhor forma, o tempo encarregar-se-á de nos dizer. Uma coisa é certa, se se passar uma borracha sobre o acontecido e ninguém sofrer consequências, fica aberto um precedente gravíssimo, aliás o precedente já estava aberto depois dos dois golpes de estado, agora com essa cena o precedente fica todo inhangado. Qualquer dia desses começa-se a ir para a feira do ponto com francote na mão para obrigar as palaiês a baixarem o preço do voador.

S. I – Mas também eles não tinham muito espaço de manobra, os gajos até deram 24 h para o Governo decidir e estavam dispostos a dar a vida por essa causa, acho esta posição de força assustou um bocado o Governo. Mas convenhamos, achar que os homens iam morrer por causa de um mero equívoco administrativo, isto era só tesão de mijo pá, zôplo d´ubuê.

S. II – Será que era mesmo só isso? Não estarás a pintar o quadro em tons cor-de-rosa quando devia ser negro escuro?

S. I – O quê?! Será que há mesmo alguma artimanha política atrás disto? Ou achas mesmo que os gajos podiam levar isto até as últimas consequências como diziam?

S. II – Meu amigo, se há alguns anos atrás se me dissessem que os São-tomenes eram capazes de dar um golpe de estado, de caçarem-se uns aos outros com balas verdadeiras na feira do ponto ou de tomarem o quartel da policia com armas automáticas a dizerem que estão disposto morrer em combate se o Governo não substituir o comandante, eu certamente acharia que a pessoa andava na tampa de bule ou não batia bem das pernas, mas da maneira que as coisas vão, acho que devemos começar a levar a sério esse tipo de ameaças e esperar sempre pior.

S. I – Nada sócio, acho que esses acontecimentos pontuais são frutos de impulsos de momentos, e como sabes, acaba sempre tudo bem, na paz. Não está na nossa natureza ir muito mais longe do que isso e depois somos todos primos, lembras-te?

S. II – Aié? O tempo, sobretudo os contratempos fazem as pessoas mudarem a sua natureza. Analisa o seguinte: O povo anda descontente, frustrado e com fome, a autoridade do estado é constantemente posta em causa, não se sabe quem manda e aonde manda, as condições de vida das populações estão cada vez degradadas em contradição com as da burguesia reinante, a anarquia e a desordem conquistam cada vez mais espaço na nossa sociedade, agora até aqueles que supostamente deviam manter a ordem andam a brincar de cowboys. Eu digo-te: Estão reunidas todas as condições para o barril de pólvora que hoje é a nossa sociedade explodir a qualquer momento.

S. I – Épá, deixa de falar atóa, não acredito que cheguemos um dia a esse extremo. É claro que essas situações têm o seu quê de preocupante, mas dizer que as coisas podem ficar mais pretas em termos de reacções violentas é ser muito pessimista e totalmente deslocado da nossa realidade. Acorda sócio, estamos em STP.

S. II – Meu caro, junte à fome, à miséria e à revolta que hoje é visível em muitos sectores e zonas de STP a sede cega de poder e o sentimento de impunidade que reina na nossa classe governante e vê lá se não temos o detonador perfeito para situações de maior gravidade que ponham em causa a existência de STP enquanto Estado democrático, de direito e pacifico? As pessoas não se respeitam, a sociedade está decadente em termos de valores, as pessoas sentem que o trabalho honesto e o esforço profissional não as levam a lado nenhum, os exemplos que vêm de cima são aqueles que conhecemos, abre-se estes precedentes de mão leve para aqueles que atentam contra a ordem pública, os órgãos de soberania não se entendem, os militares andam numa paz podre com o poder instituído, a justiça já nem anda a passo de caracol, está parada no meio da estrada a ser constantemente atropelada pelos jeeps dos bosses e já há muito que somos o País do salve-se quem puder, a casa da mãe Joana. Por tudo isso não te admires se um dia desses os primos se zangarem a sério e começarem uma briga familiar do tipo que houve em Moçambique, Angola ou Ruanda.

S. I – Credo, nem a brincar digas uma coisa dessas. E depois são Países diferentes e situações totalmente distintas da nossa, não se pode comparar.

S. II – Não se pode comparar??? O que esteve na origem dessas guerras? Não foi a ambição dos homens? Não foi a falta de entendimento entre os que mandavam? Não foi por acaso a sede do poder e a fúria de açambarcar as riquezas do País? E o que tens visto em STP, principalmente desde que se descobriu o petróleo? Pode até ser que eu esteja a exagerar na comparação, mas escreve o que eu digo: A esse andar não estamos longe de vermos uma sublevação popular de proporções catastróficas no nosso país. Ontem foram os militares, hoje os polícias, amanha serão os candongueiros ou os pescadores e quando dermos conta, âua uê só.

S. I – Realmente sou forçado a concordar contigo nesse ponto, temos caminhado para um beco sem saída, mas estou convicto de que os São-tomenses encontrarão sempre uma saída airosa para qualquer tipo de situação mais complicada que surgir no futuro e saberemos sempre evitar a via da violência para ultrapassar os obstáculos que surgirão na nossa luta por uma sociedade mais equilibrada e por um País mais justo, pelo menos quero acreditar nisso.

S. II – E achas que eu não quero também acreditar nisso? Mas eu sou realista e a realidade diz-me que essas outras formas de lutas, nomeadamente as greves, a manifestações populares, as denuncias ou outro tipo de acções para pressionar o poder esbarram no facto de só funcionarem quando se está organizado, quando se tem os olhos abertos, quando não se é bruto e atrasado, analfabeto e invejoso e numa sociedade em que as instituições funcionem, o que não é o nosso caso, sem contar com o facto das pessoas serem facilmente compradas e de se poder facilmente comprar as pessoas, aquelas que ousam enfrentar o poder, mas que não podem deixar de comer, de sustentar os seus filhos e até de gostar de engolir moedas.

S. I - Sócio realmente consegue ser muito realista, o que achas então que devemos fazer para mudar essa situação e evitar o abismo?

S. II – Esta é uma questão que devia preocupar todos os São-tomenses de boa vontade que ainda não foram corrompidos pelo comodismo, pelo marasmo e pela mediocridade e que ao seu modo continuam a lutar por um São Tomé e Príncipe melhor. Quanto a mim a resposta é simples: Temos que suar muito meu caro, porque ainda nos falta fazer TUDO!!!

... E seguiu-se um momento de silencio, com o dois a pensarem de forma mais profunda na conversa que acabaram de ter.

Lisboa 26/01/06

CONVERSAS SOLTAS VI - Sobre a questão da corupcção em S.T.P

Dois São-Tomenses patriotas, politicamente esclarecidos, comentavam as declarações do Presidente da República aquando do seu regresso dos “states”:

Patriota 1 – Já soubeste da última? O Fradique disse ontem que não há corrupção em S. Tomé.

Patriota 2 – Por acaso alguém comentou isso comigo, mas como a pessoa estava toda comido água eu pensei que era a bebida a falar. Mas ele disse isso com todas as letras?

Patriota 1 – Parece que alguém do Banco Mundial comentou com ele a boca pequena que a propensão para a corrupção em STP aumentou em cerca de 30% e o nosso Presidente disse que não compreendia como é que isso era possível. Para um bom entendedor…

Patriota 2 – Será que vocês entenderam bem? Se calhar ele disse que não compreendia como é que o risco para a corrupção SÒ aumentou 30%, não acredito que o nosso Presidente fizesse tamanha figura triste. Não há corrupção em STP?! Quá liii, bilí pipi dá côlico.

Patriota 1 – Eu ouvi três vezes na RDP África, por momentos até pensei que ele fosse fazer aquele discurso da praxe, tipo: Esta situação é muito grave, temos que unir as nossas forças para combater esse mal e blá, blá, blá…Mas nada, simplesmente deu a entender que os gajos do Banco Mundial acordaram um belo dia e resolveram fazer essas declarações partindo do nada, assim como quem caiu de jaqueira.

Patriota 2 – Epá, isto está mal, se da maneira que as coisas vão, têm coragem de dizer que não há corrupção em STP, eu nem quero imaginar como é que vai ser quando começarem a ser corruptos.

Patriota 1 – Se calhar andam a nos preparar para o que ai vem com essa coisa do petróleo, se agora o povo já está buiado, quando a coisa começar a sério é que vai ser uma Buiadez total. Mas por outro lado ele pode ter razão.

Patriota 2 – Como assim?

Patriota 1 – Então não se costuma dizer que toda a gente é inocente até que se prove o contrario? Já viste alguém ser condenado em STP por corrupção? Por essa lógica pode-se dizer que realmente não há corrupção em STP.

Patriota 2 – Epá, mas toda gente sabe que o que há mais em STP são políticos a comerem o dinheiro do povo, mal e porcamente.

Patriota 1 – Toda gente sabe? Toda gente sabe é que há indivíduos a ficarem ricos do dia pra noite assim que entram para os altos cargos do estado, a comprarem dois ou três jeeps, a construírem duas ou três casas e a ostentarem outros sinais visíveis de riqueza. Mas alguém já teve a coragem de provar alguma coisa? Algum deles já mamou cadeia a sério?

Patriota 2 – Por acaso tens razão, os gajos acusam-se uns aos outros, mas a coisa acaba por ficar sempre em águas de bacalhau. Até parece que têm um acordo secreto do tipo: Deixa-me fazer o meu que quando chegar a tua vez eu deixo-te fazer o teu.

Patriota 1 - Ainda vai aparecendo um ou outro caso que dá muito nas vistas e surgem pressões exteriores para que se faça qualquer coisa, tipo o caso Kilombo, o caso títulos de tesouro, o caso Cunhagem de moedas etc, etc, Mas alguém foi preso? Ficou provado alguma coisa? Alguém foi obrigado a restituir o dinheiro do povo? Nada!!! Fizeram uns zôplos pra inglês ver e a vida continua. Alguém mais fala nisso?! Quem comeu dinheiro dele ficou comido e pronto!

Patriota 2 – É verdade sócio, é como essa coisa do GGA, no principio deu bué de maka, prenderam uns coitados, queriam levantar imunidade de não sei quem lá, proibiram o fulano e tal de viajar, mas hoje em dia já nem se houve falar no caso.

Patriota 1 – Yá, como diria o PGR: O processo está a seguir os trâmites legais. Ôla sun cá somblá, a coisa já foi arquivada e o assunto está morto. E depois ainda há aqueles acordos internacionais que são assinados por auto criação de alguns Ministros a troco de boas gorjetas e nunca são investigados a fundo e as vezes o estado ainda é obrigado a indemnizar os delinquentes em caso de anulação. Isso é vida?

Patriota 2 – Mas também o quê que se podia esperar dos Tribunais e do Ministério Público com a promiscuidade que há na política São-Tomense? Fulano é primo de tal Ministro, o outro individuo era marido da 1ª Ministra, esse outro é marido da Ministra da justiça, há ainda aquele outro que é parente do próprio Juiz, como é que não há pressões? Como é que a Justiça pode ser cega diante de tantas ligações perigosas? Está tudo entre família…

Patriota 1 – Mas num País sério essas coisas não acontecem. A justiça tinha que ser séria e imparcial e nesses casos de ligações perigosas, o titular de cargo público tinha que ser obrigado a demitir-se para não influenciar as investigações e o respectivo processo.

Patriota 2 – Meu caro amigo, num País sério temos entidades independentes de olhos bem abertos, temos grupos de pressão organizados, temos uma comunicação social imparcial e implacável e uma sociedade civil mais interventora e ciente dos seus direitos. Em STP temos alguma dessas coisas?

Patriota 1 – Tocaste no X da questão, aqui ninguém exige nada, falamos, esbracejamos, gritamos kidalé mas ainda não fomos capazes de nos organizar para fazermos as coisas acontecerem. Ficamos no nosso cantinho, sempre no leve-léve, tristemente acomodados a espera que as coisas caiam do céu. Assim não vamos a lado nenhum, enquanto as acções deles não despoletarem uma reacção séria da nossa parte, estamos fatalmente condenados. Diz-me uma coisa: Se encontrasses uma colmeia e conseguisses tirar o mel sem que as abelhas te picassem, o que farias?

Patriota 2 – Continuava a tirar o mel até o dia em que fosse picado.

Patriota 1 – É isso mesmo meu camarada, as abelhas da colmeia STP têm que começar a picar, a picar a sério.

...E com essa alusão "abelhistica" mudaram o rumo da conversa para temas mais adocicados.

Lisboa 4/10/05

CONVERSAS SOLTAS V - Sobre a questão do referendo ao sistema de Governo em S:T:P

Dois compadres, um Taxista e o outro Professor (Povo pequeno) trocavam umas ideias durante o percurso cidade Capital – Trindade:

Compadre I – Compadre, diz-me uma coisa: Referendo é o quê?

Compadre II – Compadre não sabe o que é Referendo? Compadre não costuma ver telejornal?

Compadre I – Como é que eu vejo telejornal se gente quase nunca tem energia e quando tem, o senhor Manuel só deixa as pessoas irem pra casa dele assistir televisão depois da hora de Jantar?
compadre esqueceu que telejornal nacional dura dez minutos só?

Compadre II – Por acaso é verdade, mas onde é que compadre ouviu falar de Referendo então?

Compadre I – Há uns meus clientes lá da cidade que ficam toda hora a dizer que Presidente quer fazer referendo, que não sei lá quem não quer, que essa coisa vai dar confusão... Será que é um novo golpe de Estado?

Compadre II – Nada disso compadre, Referendo é...Como é que eu posso explicar... É uma espécie de eleição em que o povo vai votar se quer uma coisa ou se quer outra.

Compadre I – Uma coisa ou outra? Como assim?

Compadre II – Por exemplo, o Governo pergunta ao povo se quer vinho tinto ou vinho branco e o povo vai votar pra escolher um deles.

Compadre I – Qué quá??? Isso é qual brincadeira? Como é que vão mandar um gajo escolher vinho branco ou tinto? E como eu gosto dos dois?!

Compadre II – Oh compadre, fica calmo pá, isso é só um exemplo que eu dei. Compadre não lembra em 1990 quando o povo foi escolher se queria continuar com o sistema de partido único ou a Democracia?

Compadre I – Eu lembro mais?! Naquela altura gente queria era correr com o Pinto e qualquer coisa que o PCD e o Trovoada mandavam fazer, gente fazia. E esse Referendo é pra escolher o quê então?

Compadre II – Pelo que eu tenho percebido é para o povo decidir se é o Presidente que fica a mandar ou se é o Governo.

Compadre I – Xéi, isso é qual bobo? Não é o Presidente que manda já?

Compadre II – Parece que as coisas não são bem assim, há muitas coisas que não estão bem claras na lei e cada um interpreta a sua maneira por isso não se sabe ao certo quem manda no País e tem havido essas crises todas entre os Presidentes e os Governos.

Compadre I – Então como é que o Presidente está sempre a Correr com o Governo e o Governo não corre com o Presidente? Ele ainda quer mais do que isso? Homem quer ser Sôba ou quê?

Compadre II – Meu caro amigo, todos eles querem ser Sôbas e ter o poder absoluto, em vez de se preocuparem com os problemas mais urgentes do povo andam nessas lutas que só prejudicam o País, pra ver quem fica com a “chupeta”. Eles deviam era fazer um referendo pra saber se o povo quer água potável, Escola e Hospital ou se está preocupado com quem manda mais.

Compadre I – E essa coisa de Referendo tem campanha também?

Compadre II – Não é como as eleições normais, mas de certa forma vai haver campanha sim. De um lado vão estar aqueles que defendem mais poder para o Presidente e de outro aqueles que defendem mais poder para o Governo. E pelos interesses que estão em jogo, vai ser uma campanha pesada.

Compadre I – Buá só, assim pelo menos um gajo vai ter um mês a comer e beber afabal e ferro vai escorregar como água.

Compadre II – Por acaso eu nem estava a lembrar mais dessa parte, mas parece que querem fazer o Referendo junto com as eleições legislativas.

Compadre I – Não interessa, quem quiser pra eu votar nele vai ter que me dar dois Ferros, um ferro pra Referendo e outro ferro pra eleição legislativa. Deus queira que MLSTP e Fradique estejam cada um a querer uma coisa, assim dá pra um gajo limpar as duas bocas. E se eles quiserem alugar o meu carro pra campanha como em 2002 aí é que minha vida pegava.

Compadre II – Eu também tenho que ver se arranjo um atestado médico pra faltar trabalho uns quinze dias porque eu vou entrar na campanha forte e feio. Mas diz-me uma coisa, compadre prefere que seja quem a mandar? Presidente ou Governo?

Compadre I – Eu quero lá saber desse problema...Manda um ou manda outro, povo tá aqui só como bobo, por isso eles que são pretos que se entendam. E o Compadre prefere quem?

Compadre II – Epá, nós já tivemos um Presidente a mandar e o País não arrancou, veio a Democracia com o Governo a mandar e o Presidente a controlar só deu confusão e instabilidade, só falta meter o Parlamento a mandar.

Compadre I – Mesmo assim não sei se as coisas funcionavam, são sempre os mesmos gajos que estão lá em cima.

Compadre II – É verdade, de qualquer das formas estamos sempre dependentes da boa fé dos nossos dirigentes, seja lá quem estiver a mandar. È pena que essa boa fé até hoje ainda não se tenha manifestado

...E tiveram que interromper a conversa porque o taxi velho sobrelotado não conseguia galgar a subida do cemiterio da Trindade e alguém teria que abandona-lo antes de chegar ao seu destino.


Lisboa, 20/09/05

CONVERSAS SOLTAS IV - Sobre a questão do paludismo em S.T.P

Uma mãe aflita, chega com o seu filho doente a uma dessas clínicas com nome de santo que proliferam na nossa capital:

Mãe - Bom dia sô dotor!

Medico - Bom dia, diga lá o que se passa!

Ma - Meu filho passou a noite toda com dor de barriga, já lhe dei chá de folha de goiabeira, vumbada e até já lhe lavei cara com xixi, mas até agora a dor não passou.

Me - É assim que vocês matam as crianças, quem lhe disse que é saudável ingerir essas coisas?

Ma - Ooohhh... Desde criança que a mãe me ensinou que vumbada limpa barriga e xixi é para afastar zálima blucu.

Me - Já vi que a sua ignorância é hereditária, nem vale a pena discutirmos isso. O seu filho parece aflito, porquê não o levou directamente ao Hospital Central?

Ma - Dotor acha? Pra ficar lá bué de tempo a espera pra depois darem uns comprimidos de maiuia e mandarem-me pra casa? Eu prefiro gastar um bocado de dinheiro aqui na clínica, ao menos não demora muito e meu filho fica bom logo.

Me - Nesse ponto a senhora até tem razão, aqui o atendimento é mais personalizado e temos mais tempo para cuidar dos pacientes... Tira a camisa do seu filho e deita-lhe na cama...

..............................

Me - Diz: Aaaahhhh....outra vez!...aqui dói?... E aqui?...humm... Isso deve ser paludismo!

Ma - Qué quá? Paludismo faz barriga doer dotor? Rapaz nem tem febre nem nada...

Me - Oh minha senhora, afinal quem é o Médico aqui? A senhora não sabe que o paludismo as vezes ataca o estômago? A senhora é mesmo uma ignorante.

Ma - Quéi dotor, eu não ignorei não, desculpa-me, eu não sabia disso.

Me - Mas de qualquer forma, vou mandar fazer uma análise para tirar as dúvidas.

Ma - E gente paga essa análise?

Me - Claro, a senhora sabe que nós vivemos com muita dificulidade, não podemos fazer as coisas de graça, ainda se o Estado comparticipasse as despesas de saúde...

Ma - O Estado quê?

Me - Esquece! É só um sonho que está longe de se concretizar. Então? Fazemos a análise ou não?

Ma - Kei Dotor, eu não posso estar nessa vida não, meu filho tem só 5 anos e já adoeceu paludismo 4 vezes. Assim não dá… Dinheiro nem chega pra gente viver e ainda tem que gastar com consulta e comprimido. Se dotor diz que é paludismo é porque é mesmo, não precisa fazer análise.

Me - A senhora é que sabe. Então vou lhe receitar Quinino, para tomar dois comprimidos de oito em oito horas.

Ma - Quéi, Quinino outra vez? Dotor não tem outro remédio não?

Me - Só se a senhora quiser Halfan?

Ma - Dotor quer matámo? Halfan é comprimido pra gente gordo, dá-me Quinino assim mesmo. Desde que eu nasci que gente anda nesse padecimento de paludismo e até hoje ninguém conseguiu resolver esse problema, passam a vida a comer dinheiro só e nem porcaria de mosquito conseguem matar de vez.

Me - A senhora até tem uma certa razão, mas olha que erradicar o paludismo em STP não é tarefa fácil.

Ma - Não é fácil ou eles é que não estão interessados? Como a família deles quando adoecem vão logo de junta pra Portugal, o povo pequeno é que padece.

Me - Isso das Juntas médicas são contas de outro rosário. Olha, aqui está a receita, a senhora pode comprar os comprimidos na farmácia aqui da clínica que é mais barato.

Ma - Mais barato que na feira do ponto?

Me - A senhora quer Quinino ou pasta de farinha de tigro? Cuidado com esses medicamentos da feira do ponto. Aqui na clínica a qualidade é atestada, os medicamentos vêm directamente do Hospital Cen… quer dizer, de Portugal.

Ma - Dotor “tem razão. Muito obrigada pela atenção.

Me - De nada, estou aqui para servir. Então até um dia e melhoras para o menino, não se esqueça de acertar as contas com a minha secretária.

Ma - Vê essa parte…Até amanha Dotor.

...E depois de "acertar" as contas, lá seguiu a mãe o seu caminho, com a esperança de que o seu filho tão cedo não volte a adoecer, para não ser obrigada a espremer outra vez o seu ja espremido orçamento familiar.


Lisboa 8/09/05

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

CONVERSAS SOLTAS III - Sobre o caracter dos nossos Ministros

Um Ministro de um certo País situado no Golfo da Guiné falava ao telefone com o seu primo (ex-ministro desse mesmo País) dias depois de ter tomado posse:

Ministro - Alõ sô primo... Tudo em cima?

Ex-ministro - Tou balelado, entaõ? Essa boa vida de Ministro?

Mi - Epá, ainda tá no início, mas as coisas começam a encaminharem-se. Ouvi dizer que sô primo está muito em baixo e que desde que deixou de ser Ministro, passa a vida a chorar só e nem sai mais de casa. É verdade?

Ex - Nada sócio, isso é boato da oposição. No princípio até doeu um bocado, mas já estou conformado. Mas diz lá, o quê que mandas?

Mi - Eu liguei pra te pedir um favor.

Ex - Aié? Diz lá o que é.

Mi - Sabes que eu não tenho experiência nessa coisa de Ministro e desde que acabei o curso só trabalhei 1 ano. Ainda mais deram-me uma pasta que não tem nada a ver com a minha formação, por isso eu queria que sô primo me desse umas dicas pra ver se eu não envergonho a família.

Ex - Só isso? É assim, a primeira coisa que tens que fazer é arranjar uma boa secretária.

Mi - Mas eu já tenho uma, contratei a prima Maria. Sabes que um gajo tem que ajudar a família e depois ela é responsável e tem mais de 15 anos de experiência.

Ex - Ô sócio, abre o olho pá! Estou a falar de uma Jovem com boa aparência e que goste de fazer horas extras. Tás a ver o filme?

Mi - Ahmm...Uma coisa pra eu safá minha vida de vez em quando, né?

Ex - Ababaêêê, estava a ver que tinha que te fazer um desenho...E qual carro é que andas a conduzir?

Mi - Aquele Nissam Patrol amarelo do meu Ministério.

Ex - Ahmm...Esse carro é novo. Olha, daqui a uns meses, mandas o carro pra oficina do “chupa mama” e dizes que o motor gripou, depois quando estiveres a sair, compras o gajo como se fosse um carro avariado por um preço simbólico.

Mi - A sério? Mas ninguém vai desconfiar de mim?

Ex - Fica calmo sócio, todos esses gajos fazem a mesma coisa e há quem nem chega a pagar nada.

Mi - Ê ça mô cuá çá? Buá sôôô...

Ex - Outra coisa que tens que ter em atenção são as viagens, isso é que dá dinheiro. Sabes aquela minha casa do campo de milho que está alugada?

Mi - Ahmm...Afinal a casa é mesmo tua...E andavas a dizer que não.

Ex - Epá, socio não pode confirmar tudo o que dizem na praça, tens que ter jogo de cintura... mas como estava a dizer, aquela casa foi feita quase só com subsídio das viagens.

Mi - É por isso que sô primo viajava bué assim...Mas esse subsidio é assim tanto?

Ex - É mais que o teu salário oficial e depois há uns truques pra esticar o gajo um bocado mais.

Mi - Não faz caím com coisa não, sô primo, explica-me tudo.

Ex - Primeiro tens que inventar muitas viagens. Aceita todos os convites e compromissos que tiveres no estrangeiro, diz que tudo é importante para o desenvolvimento do País. Depois podes pedir dinheiro pra passagem de primeira classe e ir na económica ou dizer que a comitiva tem x pessoas e levar menos...epá, há muitas formas de se fazer isso, depois acabas por apreender o resto com o tempo.

Mi - Kéiii...Isso é um totoloto que saiu pra mim. E o quê mais Primo?

Ex - Epá, podes assinar uns acordos que te rendam boas gorjetas, facilitar alguns empresários em concursos públicos, arranjar facturas inflacionadas, ter funcionários fantasmas na folha de pagamentos, enfim... tens que ter jogo de cintura pra sobreviver.

Mi - Epá, Sô primo é mesmo dado na matéria, sô primo não quer ser meu acessor?

Ex - Oh rapaz, achas que eu ia descer de cavalo pra burro? Além disso eu já tenho uma bolsa especial pra Taiwan, vou fazer um mestrado e descansar um bocado.

Mi - Sim senhor, isso é que é viver. Mas diz-me uma coisa sô primo, um gajo não faz nada pelo povo?

Ex - Tas mesmo verde no assunto, isso de ajudar o povo é conversa desses comunistas armados em patriotas, sócio tem que saber de vida primeiro e depois se te criticarem diz que não há verba, essa desculpa cola sempre.

Mi - Por acaso sô primo é capaz de ter uma certa razão, depois eu nem sei quanto tempo é que eu vou ficar aqui, é melhor aproveitar, né?

Ex - Mais nada...Primeiro safa tua vida, depois, se der, faz uns zôplos pra não dizerem que só andas a comer dinheiro, tipo patrocinar umas festas de freguesia, tapar uns buracos na estrada, essas coisas assim.

Mi - E essas coisas de bolsa de estudos, distribuição de roças e casas do estado, ajudas internacionais como é que um gajo faz pra conseguir isso?

Ex - Esses são assuntos tratados no conselho de ministros, lá sócio tem que abrir olho com esses gajos, como és maçarico os gajos podem querer meter-te o dedo no olho, por isso tens que estar alerta.

Mi - Ainda bem que me avisaste, muito obrigado pelos conselhos sô primo, agora tenho que desligar porque tenho que ir despedir a prima Maria, depois falamos. Um abraço.

Ex - Agora que chegaste lá não te esqueças mais desse primo que te deu as dicas, ok?

Mi - Não há makas sô primo, familia não deixa a familia cair.

...E lá foi o "primo" todo contente despedir a coitada da "prima" Maria e por em pratica a sua estrategia de governação.

Lisboa 18/07/05

CONVERSAS SOLTAS II - Sobre a queda do Governo de Damião V. Almeida

Dois Emigrantes São-Tomenses “minimamente” esclarecidos em questões políticas (um mais actualizado do que o outro), trocavam dois dedos de conversa numa dessas tardes quentes de verão :

EMIGRAMTE 1 - Já soubeste das últimas novidades lá da terra?

EMIGRANTE 2 - O quê? Houve mais um golpe de estado?

E1 - Por enquanto não, o Governo do Damião é que caiu.

E2 - hamm, isso? Ouvi qualquer coisa na rádio, Sabes que há muito tempo que eu não dou atenção aos “mambos” da terra, é só más noticias e trapalhadas...Mas não percebi muito bem, o Governo caiu ou foi o Fradique que o empurrou?

E1 - Aparentemente o Gajo dessa vez está “inocente”, o Damião é que apresentou a demissão.

E2 - Até que ele aguentou muito, eu não lhe dava mais do que um mês. Mas o que aconteceu para ele pedir a demissão?

E1 - Ele alegou falta de apoio institucional do Fradique na altura da greve geral da função pública e não sei mais o quê. Mas eu acho que também tem a ver com aquela maka do segundo leilão dos blocos de petróleo.

E2 - É verdade, como é que isso ficou? Houve ou não mafía? Alguém comeu dinheiro ou não?

E1 - Quém sêbê...O Fradique acusa o MLSTP e o Trovoada de terem assinado acordos que prejudicaram gravemente os interesses de STP, o MLSTP acusa o Fradique e o seu mina quiá Nando Rita de terem favorecido uma empresa de que supostamente serão sócios. Houve uma troca de comunicados entre eles a se defenderem e a acusarem-se mutuamente, mas pelos vistos, mais uma vez isso vai ficar em águas de bacalhau.

E2 - Como quem diz, ninguém vai provar nada, ninguém vai ser chamado à responsabilidade e vamos mais uma vez ficar sem conhecer a verdade dos factos.

E1 - Duvidas?!

E2 - E porquê que o Ministério público ou o Parlamento não abrem um inquérito para se apurar a verdade? Acho que se justificava num caso tão importante como esse.

E1 - Andas mesmo “desinformado”, já se criou uma comissão parlamentar conjunta entre STP e a Nigéria para fiscalizar esse processo. Mas note bem, é uma comissão para fiscalizar e não para investigar.

E2 - E porquê não se criou essa comissão há mais tempo? Ou melhor. Porquê não se pediu uma auditoria e uma investigação de instituições independentes para esclarecer todos esses imbróglios? De certeza que nessa comissão estão gajos do MLSTP e lacaios do Fradique, né?

E1 -Nem te digo nada, só sei que muita boa gente anda a facturar e muito a custa desses imbróglios todos.

E2 -Outra coisa que eu não entendo, porquê que o presidente é que está a frente dessa cena toda? Não é ao Governo que cabe conduzir o destino do País?

E1 -Oh sócio, essa é outra história, pensas que foi em vão que o Fradique impôs que as alterações à constituição que retiram poder ao Presidente só entrassem em vigor a partir do próximo mandato? Já lhe cheirava a petróleo.

E2 - Epá, nem me lembres desse episódio, um Presidente a condicionar a promulgação de uma lei de revisão constitucional quando a própria constituição não lhe permitia...Só mesmo em STP, essa foi das piores facadas que deram na nossa Democracia. Então e agora? Vamos para mais umas “eleiçõeszitas” antecipadas?

E1 - No princípio parecia que sim, o MLSTP recusava-se a apresentar um novo nome para o cargo e pedia eleições antecipadas, mas por obra e graça de Jesus Cristo, voltou atrás e já temos um Primeiro-ministro, aliás, uma Primeira-ministra.

E2 - Aié? Mais uma Maria?

E1 - Nem mais, Maria do Carmo Silveira, Ex Governadora do Banco central.

E2 -Kéiii...País virou Bobo mesmo, agora tiram rifa pra ser Primeiro-ministro? Primeiro o Damião e agora essa senhora? Gostaria de saber que requisitos levam em conta pra escolher os Primeiros-ministros, será que é suficiente saber ler e escrever com poucos erros? Mas admira-me como é que o Fradique não dissolveu a Assembleia e convocou logo eleições antecipadas, isso nem parece dele.

E1 - Só vejo duas justificações: Ou o gajo ganhou juízo e viu que não era nada benéfico pra STP ir outra vez para eleições antecipadas, tendo em conta a conjuntura actual do dossier petróleo e das negociações para o perdão da dívida externa, ou ele sente que o panorama actual não lhe é favorável e possivelmente o seu partido não alcançaria uma vitória nessas eleições.

E2 - Eu aposto na segunda hipótese, o Fradique já provou que tá a se cagar para os interesses colectivos dos São-Tomenses. Aliás, a sua ambição suprema é ver o seu partido ganhar umas eleições legislativas e assim deter o poder absoluto em STP, tal como o Pinto teve e o Trovoada sempre tentou. Já reparaste que eles no principio foram apoiados por um partido e assim que assumiram o poder, fundaram logo um novo partido suinamente subordinado às suas vontades, antes de convocarem umas eleições de fachada com esperança de aproveitarem o seu momento de graça para fazer eleger o seu partido?

E1 - Por acaso tens razão, O Trovoada teve o apoio do PCD, mas quando ganhou e viu que não controlava o PCD, fundou o ADI antes das eleições antecipadas de 94. O Fradique era do ADI, mas assim que foi eleito, fundou o MDFM mesmo a tempo de participar nas eleições antecipadas de 2002. Por sorte ou azar, nesses 14 anos de Democracia nunca tivemos um Presidente e um Governo da mesma cor política no poder.

E2 - Pois é, nem o MLSTP conseguiu eleger um Presidente e nem o Trovoada e o Fradique conseguiram meter os seus comparsas no poder.

E1 - Se calhar era essa a saída para as sucessivas crises políticas que o País tem enfrentado nesses anos de Democracia, com esse cenário era capaz de haver mais estabilidade Governativa e não se teria verificado esse autentico desfile de Governos que tem acontecido.

E2 - É verdade, com esse já são 13 Governos em 14 anos, e nenhum conseguiu terminar a legislatura, é muita fruta. Acho que somos o País com a maior taxa de ex Primeiros-ministros por habitantes. Mas tenho a certeza que um Governo da mesma cor política do Presidente nos conduziriam fatalmente a uma nova ditadura, acho que a solução passa de entre outras coisas, pela eleição de um Presidente totalmente independente das ideologias partidárias e que ponha os interesses sagrados dos São-tomenses em primeiro lugar.

E1 - Um Presidente sem uma máquina partidária a apoiá-lo em STP? Como é que ele se elegia, agora que os resultados das eleições dependem mais do poder financeiro dos partidos do que do programa eleitoral e dos seus projectos? Isso não é pra hoje meu caro...Infelizmente.

E2 -Ê cá pô çá...mas já se sabe os outros nomes do elenco governamental?

E1 - Ainda não, parece que o MLSTP anda a negociar os nomes dos Ministros com sua alteza imperial, o todo poderoso-que-não-respeita-a-constituição Fradique de Menezes. Há rumores de que o Fradique quer certas pessoas da sua confiança em pastas estratégicas.

E2 - A sério? Outra vez esse bobo? Então o MLSTP ganhou as eleições pra quê, se tem que se submeter aos devaneios do Fradique?

E1 - Essa é uma pergunta que sinceramente eu gostaria que alguém me respondesse…Se temos uma constituição que diz que ao Partido vencedor é que cabe o direito de apresentar o nome do Primeiro-ministro e depois é convidado a formar Governo, porque é que o Presidente põe sempre entraves? E pior ainda, porquê é que o MLSTP sujeita-se a esses caprichos?

E2 - Como diria uma personagem famosa de uma novela Brasileira: Mistério!!!!

E1 - Quanto tempo é que achas que vai durar esse Governo?

E2 - Meu amigo, é melhor deixa-lo ser empossado primeiro e depois fazemos as previsões, não sabes como é que vai estar a “lua” do Presidente amanha.

...E lá decidiram mudar o tema da conversa, cientes de que os seus desabafos não os levariam a lado nenhum.

Lisboa 8/6/05

CONVERSAS SOLTAS I - Sobre a questão das bolsas de estudo.

Dois Jovens estudantes São-tomenses encontram-se numa rua de Lisboa:

Jovem 1 – Xêêê, rapaz, tas em Portugal?

Jovem 2 – Yá, tou aqui desde Setembro, tas fino?

J1 – Tô Balelado, então e o curso que estavas a fazer em França?

J2 – Epá, aquilo era complicado, não consegui arrancar no francês e perdi a bolsa.

J1 – A Sério? Teu pai deve ter ficado fodido contigo, ele queria tanto te ver doutor.

J2 – No princípio ficou, mas depois eu lhe dei uns katás e o velho entendeu…ele até já me arranjou outra bolsa.

J1 – Ahmm…Então mêu tá aqui com outra bolsa?! Sim senhor, isso é que boa vida.

J2 - Sabes como é que é, temos que ter os canais sempre abertos.

J1 – Mas isso não é pra todos, eu fiquei quatro anos na terra a espera de bolsa e nunca consegui nada, tive que vir saber de vida assim mesmo, ando a trabalhar e a estudar de noite.

J2 – yá, não sei como é que não conseguiste, sócio era um dos melhores alunos da turma, acabaste com média 15, né?

J1 – 16! E com 17 anos, não é gabar, mas eu acho que eu tinha o perfil do candidato perfeito a uma bolsa de estudos do governo, aliás, há muitos outros como eu, que perdem essa oportunidade por não ter padrinhos na cozinha.

J2 – Sócio não mexeu água bem, sabes que lá na terra as coisas funcionam assim.

J1 – Eu sei, mas não me conformo com essa situação, já calculaste o numero de bons quadros que o país deixou de formar por causa dessa politica de compadrio na atribuição de bolsas?

J2 - ………..

J1 – Mas eu candidatei-me pra esse subsidio da Embaixada, apesar de ser intermitente, tenho esperança que saia qualquer coisa.

J2 – É verdade, meu velho também falou-me desse mambo, tenho que passar na Embaixada pra saber se meu nome já ta nessa coisa.

J1 – Xêêê… tas em todas! Mêu quer abraçar mundo ou qué?

J2 – Epá, com budo não se brinca, tou a contar com esse guito pra comprar um carrinho, o meu pai vendeu o outro que eu tinha porque disse que eu tava a ficar muito bandido.

J1 – Mas não te incomoda o facto de estares a tirar o lugar de outra pessoa que realmente precisa desse cumbú?

J2 – Mêu é engraçado…eu é que tou a vir consertar o mundo? Cada um tem que se safar a sua maneira. J1 – É esse o nosso problema…

J2 – Pelos vistos continuas o mesmo sonhador, abre o olho sócio, mundo é dos espertos.

J1 – Yá, tens razão, o mundo é dos espertos…Mas também esse guito não é certo, há sempre atrasos e as vezes quando chega eles nem te dizem nada.

J2 - Mas o meu tá garantido. Eu tinha ouvido que tavas pra ir pra Cuba naquele grupo de 200 e tal estudantes.

J1 – Nada pá, eu desconfiei daquilo, era muita esmola pros pobres. Preferi ficar aqui mesmo, já estou minimamente com a vida estável e não quis arriscar. Pelos vistos fiz bem.

J2 – É verdade, dizem que as coisas lá não vão bem, começou a faltar dinheiro, as promessas não foram cumpridas, há people a passar mal, inclusive as famílias é que têm que mandar algum guito pra eles sobreviverem.

J1 – Aqueles que têm família com algumas condições, né? Mas esse é o destino de todos os estudantes São-tomenses espalhados por esse mundo fora que dependem financeiramente do nosso governo. Isso é um mal já antigo. É incrível como é que ninguém até hoje se debruçou seriamente sobre esse problema, fazem as coisas em cima do joelho, mal programadas e depois os filhos de cada um é que sofrem.

J2 – Acho que ainda um dia desses ouvi na RDP África um caso de um compatriota no Brasil que estava a passar fome e corria o risco de ser expulso de casa por falta de pagamento.

J1 – Esse é apenas um entre muitos casos, garanto-te! Mas o mais incrível é que mesmo com essas condições, mesmo passando sérias privações, os nossos compatriotas em regra conseguem concluir com êxito as suas formações.

J2 – yá, mas se calhar se não fosse assim eles não se dedicavam tanto, ficavam como os outros só na boa vida e acabavam por perder-se.

J1 – Podia até ser, mas mesmo assim, já que os tiram do seu País, deviam lhes proporcionar as mínimas condições para terem uma vida digna, não em excesso, mas acho que todos mereciam o mínimo indispensável e não essa vergonha que tem verificado desde sempre. Sabias que se chega ao cúmulo de ser o próprio Ministro a aconselhar os estudantes a só fazer uma refeição por dia pra poupar o dinheiro, porque não se sabe quando é que “ aparecerá” um novo financiamento?

J2 – É… São verdadeiros heróis esses cambões, deviam ser condecorados. Se calhar é por isso que poucos regressam. Guardam uma certa mágoa do País, por terem passado muito mal e quando terminam os cursos estão mais interessados em ficar no País de acolhimento para tentar ganhar muito dinheiro e compensar os anos de privação que passaram.

J1 – Não é só isso, o que falta mesmo é uma politica funcional e equilibrada de incentivo ao regresso dos quadros por parte do nosso Governo, qualquer um que regresse a S. Tomé hoje, está por sua conta e risco. E se não tiveres mais nenhum familiar lá? Como é que fazes, se quando acabas o teu curso nem te dão garantias de um emprego e uma habitação? E nesse aspecto nem era preciso inovar, é só copiar o que os outros fazem. Olha o caso de Cabo Verde.

J2 – É verdade, mas ultimamente até que andam a regressar muitos estudantes, inclusive alguns dos nossos colegas.

J1 – São aqueles que acreditam em tempos de Bonança por causa do petróleo e estão dispostos a arriscar agora para depois colher o fruto. Não os censuro. Só tenho pena que muitos chegam lá a pensar de uma forma e depois de 4 a 6 meses sem salário e alguns aliciamentos, mudem totalmente a sua forma de pensar, deitam por terra todos os valores que nortearam as suas vidas até então e começam também a pensar servirem-se de São Tomé Príncipe e não servir São Tomé e Príncipe. Já notaste que hoje em dia em São Tomé todos querem ser políticos?

J2 – Yá, agora os Partidos Políticos em S.T nascem como bananeiras. Mas se calhar eles acham que essa é a única forma de tentar fazer alguma coisa pela terra, sabes que se não for assim, é difícil entrar no sistema.

J1 – Não creio que seja esse o caminho, devíamos todos reflectir seriamente sobre essa questão, mas…Confesso-te que já tive mais esperança nessa nossa geração, mas é com o coração afogado na tristeza que te digo que continuando as coisas a esse ritmo, fatalmente acabaremos por trilhar o mesmo caminho dos mais velhos.

J2 – Até que enfim vejo-te a ser realista, mas é preciso não desistir. Eu mesmo digo essas coisas e ajo como um irresponsável e futuro corrupto, mas lá no fundo eu quero também contribuir para melhorar S.T.P, mas é preciso reunir o pessoal todo em torno desse objectivo e fazer as coisas acontecerem, sozinho não se chega lá. Sócio vai armado em carapau de corrida sem ninguém a te apoiar e depois aleijas, mal aleijado.

J1 – yá, tens razão. Epá sócio, tenho que bazar, vou pra biblioteca estudar, as frequências estão a chegar e é preciso estar no ponto.

J2 – Eu também tenho que ir, combinei com uma petit no Colombo. Gostei de te ver. J1 – Eu também, vê se ganhas juízo.

J2 – yá, tá-se.

...E seguiram cada um o seu caminho, descontraidamente pensando na vida.


Lisboa 14/05/05