segunda-feira, 9 de maio de 2011

CONVOCATÓRIA PARA MUDAR SÃO TOMÉ E PRINCIPE

“ Seja a mudança que você quer ver no mundo” – Gandhi

Começou há cerca de duas semanas o recenseamento eleitoral de raiz nas comunidades são-tomenses da diáspora, onde as contas oficiosas apontam para a existência de cerca de 60 mil “filhos da terra”, espalhados por Portugal (25.000), Angola (20.000), Gabão (12.000) e Guiné Equatorial (3.000). Há quem garanta que esse número peca por defeito, mas mesmo sem dados estatísticos concretos, creio que não estarei muito longe da verdade se disser que entre 30% a 35 % da nossa população encontra-se actualmente a residir fora do território nacional (imaginem o que seria de STP se todo esse capital humano fosse aproveitado em todas as suas valências). No caso de Portugal, soube pelo presidente da ACOSP (Associação da comunidade de são-tomenses em Portugal) que estavam inscritos no SEF (Serviços de emigração e fronteiras) até 2009, cerca de 17 mil cidadãos são-tomenses com situação de residência regularizada. Se juntarmos à esse numero, os que se encontram em situação ilegal, as centenas de estudantes de cursos profissionais que têm chegado nos últimos tempos e todos aqueles que têm a dupla nacionalidade, creio que não é de todo ilusório falar-se na existência de uma comunidade de 25.000 são-tomenses em terras lusas.

Infelizmente, por variadíssimas razões, o recenseamento eleitoral em Portugal (acredito que nas outras paragens também) não está a corresponder às expectativas da EMBSTP/P e das várias associações e personalidades que se têm engajado de forma incisiva na luta árdua de fazer espelhar no número de eleitores, a dimensão da nossa comunidade aqui residente. Ao tradicional comodismo, desinteresse, descontentamento, indiferença e descrença dos são-tomenses na classe política e no resultado efectivo dos processos eleitorais, junta-se a desorganização e o atraso na planificação dos trabalhos por parte das entidades responsáveis, a descoordenação entre o CEN, EMBSTP/P e as associações da comunidade, a lentidão, impreparação e aparente desmotivação dos agentes recenseadores por suposta falta de pagamento dos seus honorários, a distribuição geográfica pouco eficiente das brigadas de recenseamento e a falta de publicitação pormenorizada e abrangente do próprio processo de recenseamento (apesar de estar a passar o spot na RdpÁfrica, não acredito que as pessoas saiam de suas casas para irem consultar primeiro o calendário de trabalho no nosso consulado para depois se dirigiram ao posto de recenseamento e, o calendário que anda a circular nos jornais digitais está incompleto e nem todos tem tido acesso às actualizações e emendas que tem sofrido. Sem referir o facto da geração menos jovem não estar muito ligada às modernices da internet). Todos esses factores têm contribuído para a fraca adesão dos cidadãos da diáspora à esse processo tão importante na definição do nosso futuro colectivo e o resultado desse “défice” de cidadania é que em 15 dias apenas foram recenseados cerca de 2.000 eleitores no tal universo de 25.000 emigrantes são-tomenses que residem em Portugal. Muito pouco, dirão alguns. Muito pouco mesmo, digo eu, com alguma desilusão.

A democracia, logo a seguir à independência, é claramente a nossa mais valiosa conquista colectiva e a expressão máxima dessa realidade é a possibilidade de podermos eleger livremente os nossos dirigentes e assim, condicionar de forma directa a condução do nosso destino enquanto povo soberano. Pela força do voto, podemos premiar aqueles que servem bem os interesses do nosso país e censurar todos os que dele se têm servido apenas para obter ganhos pessoais ou partidários. Pela força do voto podemos manifestar de forma assertiva o nosso grau de desilusão pelo estado actual do nosso país e fazer ouvir de forma efectiva os nossos anseios e frustrações colectivas e, apenas pela força do voto podemos influenciar a VERDADEIRA MUDANÇA no panorama político nacional por que tanto clamamos e esperamos. Portanto, VOTAR É PODER e nós, enquanto cidadãos no pleno gozo dos nossos direitos, enquanto patriotas que aspiram um futuro melhor para o nosso São Tomé e Príncipe, não devemos nos abster conscientemente desse processo e entregar de mão beijada “o ouro ao bandido”. A distância geográfica e o abandono a que fomos votados pelos nossos governantes não podem servir de desculpa para o quase total alheamento dos problemas da “terra” que se tem verificado em grande parte dos nossos emigrantes, porque mesmo que achemos (erradamente) que os problemas do país não nos afectam mais, mesmo que tenhamos melhores condições de vida do que a maioria dos nossos compatriotas que por lá ficaram, mesmo que tenhamos o nosso emprego que nos permite comprar ou alugar uma casita e um carrito e levar uma vida “minimamente confortável”, que nos permite saborear o bacalhau e o bom vinho tinto de Portugal, que nos permite vestir bem, ter acesso às escolas e hospitais com alguma qualidade e até em alguns casos, cometer a extravagancia de ir passar férias no nosso país todos os anos e “exibir” os nossos euros, não nos podemos esquecer dos nossos familiares, amigos e conhecidos que continuam por lá, sem emprego, sem saúde, sem educação, sem estrada, sem água, sem luz eléctrica e sem perspectivas nenhumas de melhoramento das condições básicas para terem uma existência digna. Não nos podemos esquecer que apesar de todas as “mordomias” que temos no estrangeiro, nunca nos sentimos totalmente realizados e felizes longe do nosso solo pátrio e todos sonhamos um dia regressar à “grota”, por isso, era até conveniente que ela se encontrasse em melhores condições do que a deixamos. E por ultimo, não podemos nos esquecer do facto dos nosso compatriotas estarem sistematicamente a acusar-nos de cobardia e de comodismo, já que passamos a vida a “mandar bocas” e a reclamar de tudo e de todos para depois, na prática, pouco ou nada fazermos para mudar o rumo das coisas, nem mesmo quando temos a possibilidade de expressar o nosso sentido de voto de cinco em cinco anos, nas eleições presidenciais (com que “cara” poderemos continuar a nos queixar do facto de não votarmos nas eleições legislativas, se continuarmos a desprezar dessa forma o direito que já conquistamos de votar nas presidenciais?)

Por tudo isso, tomo a liberdade de convocar os meus concidadãos residentes na diáspora para começarmos a mudar São Tomé e Príncipe. Não falo apenas de uma mudança que se materialize na troca de rostos e de nomes das pessoas que nos governam, mas numa mudança efectiva na forma de fazer política, na forma de nos relacionarmos e discutirmos os problemas colectivos, na nossa própria mentalidade e sobretudo, na nossa atitude em relação aos deveres de cidadania. Embora essa responsabilidade cívica não se esgote na participação activa na vida política, não podemos de modo algum desperdiçar a janela de oportunidade eu se abre agora com as eleições presidências, cujo resultado afectará positiva ou negativamente as nossas vidas de forma incontornável. Se é certo que não podemos correr o risco de voltar a fazer uma escolha errada, acima de tudo, não podemos nos negar o direito e o dever de participar no processo de escolha. Vamos pois, começar por encarar de outra forma o processo eleitoral em todas as suas formas de expressão, vamos começar por participar e encorajar os outros a participarem nesta festa da democracia, com a convicção de que apenas por essa via poderemos condicionar o poder político e com a esperança renovada de que desta vez, os resultados podem sim, ser diferentes.

Portanto, em razão de todos os pontos focados, lanço um veemente apelo à todos aqueles que ainda não se resignaram, à todos aqueles que ainda acreditam que STP “pode dar certo”, aos responsáveis das diversas associações de são-tomenses na diáspora, aos lideres comunitários, aos representantes dos partidos políticos, aos representantes das diversas candidaturas e a todos os cidadãos de boa vontade, no sentido de nos mobilizarmos e ajudarmos o CEN e a nossas Embaixadas e Consulados a revitalizarem o processo de recenseamento eleitoral de forma a termos uma verdadeira correspondência entre os números de cidadãos de cada comunidade e o número de eleitores. Vamos sugerir de forma responsável as alterações e ajustes que acharmos pertinentes, vamos arranjar as condições logísticas necessárias para que as brigadas de recenseamento cheguem mais próximo dos cidadãos, vamos publicitar de forma mais vigorosa esse processo, utilizando todas as formas de comunicação que estão ao nosso alcance, vamos exigir mais trabalho e maior organização por parte dos agentes recenseadores e se concluirmos que o tempo de que dispomos é escasso, vamos também exigir o prolongamento do processo de recenseamento por mais uma ou duas semanas, porque nessas coisas da democracia, o povo é quem mais ordena e se o povo estiver organizado e unido, pode ordenar TUDO.

Não se esqueçam, VOTAR É PODER, NÃO DEIXEMOS QUE OS OUTROS DECIDAM O NOSSO FUTURO POR NÓS.

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