terça-feira, 14 de junho de 2011

O PRESIDENTE QUE MERECEMOS

É comum ouvirmos dizer que cada povo tem os dirigentes que merece e, no nosso caso, acreditamos tão cegamente na premissa que somos um povo “má raça”, burro, bandido, invejoso e preguiçoso que desde que nos tornamos independentes fomos interiorizando e aceitando a triste sina de que, por causa desse handicap, nos está vetado o simples desejo de ter melhores e mais capazes dirigentes, porque não os merecemos. Essa espécie de desígnio nacional prevaleceu nos primeiros quinze anos da nossa independência, onde pouco ou nada fizemos para contrariar o tipo de liderança que nos foi imposta e, com o advento da democracia, mesmo ganhando o direito de escolher livremente os nossos líderes, continuamos a promover a mediocridade e a incompetência, salvo raras excepções, fazendo sistematicamente escolhas erradas e pior, conformando-nos com essas escolhas erradas, porque há muito tempo que nos acomodamos à ideia de que não merecemos coisa melhor, logo, acreditamos que estamos fatalmente condenados a ter que escolher o menos mau, entre os maus.

É sobretudo por esse pressuposto que verificamos hoje a existência de um número sem precedentes de candidatos ao cargo de presidente da república. Por termos colocado a fasquia em tão baixo nível, por termos sido tão desleixados nos critérios de selecção dos nossos líderes, qualquer um acha que reúne os requisitos necessários para exercer o cargo do mais alto magistrado da nação. Sei perfeitamente que a nossa constituição estabelece como condição básica, a idade superior a 35 anos e a cidadania são-tomense de origem, mas todos estamos conscientes que em termos práticos, esse é um critério formal que visa garantir que apenas os “verdadeiros”filhos da terra estejam habilitados a exercer o cargo de presidente da república, mas para atingir tal patamar, é necessário muito mais do que isso. Ou pelo menos, devia ser necessário muito mais do que isso, se nós, enquanto povo, tivéssemos contrariado desde o inicio a ideia de que apenas merecemos dirigentes e líderes “fracos” e estabelecido parâmetros de exigência mais elevados para que poucos se sentissem qualificados para abraçar tão nobre causa. Se é verdade que hoje em dia, qualquer um, com um bocado de sorte, jogo de cintura e muito dinheiro pode ser presidente de São Tomé e Príncipe, é mais verdade ainda que na conjuntura actual, precisamos urgentemente de um BOM presidente, ou melhor, merecemos no mínimo, um BOM presidente e, não tenhamos dúvidas, dos candidatos e pré candidatos conhecidos, a esmagadora maioria não está à altura desse desafio.

Em condições normais, apenas dois ou três são-tomenses em cada geração podem alimentar a esperança de serem eleitos presidentes da república. Esse facto, só por si, reflecte a importância, exclusividade e a responsabilidade do cargo, por isso, de uma vez por todas, nós, enquanto povo que conquistou a liberdade de escolher os seus líderes, a bem do nosso futuro colectivo, temos que começar a mentalizar-nos que somos muito melhores do que aquilo que muitos querem fazer transparecer e, assumindo como verdadeira a premissa de que cada povo tem os governantes que merece, temos que exigir mais qualidade e maior competência de todos aqueles que têm a pretensão de liderar os destinos da nossa pátria. Para começar, temos que exigir a actualização da lei eleitoral e a implementação de critérios mais apertados para que as eleições presidenciais (e as outras também) não se transformem numa feira de vaidades, onde a maior parte dos candidatos decide concorrer apenas para se auto-promover, dar o seu “show” e safar algum “ferro” dos mais fortes, na campanha eleitoral, em troca de apoio camuflado. Não sejamos também, hipócritas: Para um país com apenas 170.000 habitantes é inadmissível a proliferação de candidatos que se verifica na actual corrida ao palácio cor-de-rosa (não me venham falar em prova de maturidade democrática ou coisas do desse género). Assim como é admissível permitirmos que pessoas sem escrúpulos se aproveitem da facilidade de se tornarem candidatos presidenciais para pedir dinheiro aos chamados “doadores internacionais” e empresários estrangeiros, oferecendo contrapartidas mirabolantes que ceifam logo a esperança de um futuro melhor para todos os são-tomenses, caso sejam eleitos. É inadmissível permitirmos que pessoas com problemas pendentes na justiça, com provas dadas de incompetência e má fé na gestão da coisa pública possam aspirar o cargo de presidente da república e, de uma vez por todas, não podemos continuar a permitir que pessoas que mal conhecem a constituição que vão jurar defender, que carregam o espectro da corrupção, que servem interesses obscuros e que encaram a presidência da república como o meio ideal para engordar as suas contas bancárias, através de negociatas opacas e usurpação de bens públicos, possam sequer, sonhar em ser candidatos presidenciais. Porque, volto a frisar, o primeiro passo para termos o presidente que merecemos, é começar a estabelecer critérios de selecção sérios (formais e não formais) que permitam a emergência dos bons candidatos e façam com que os maus candidatos passem a ser a excepção e não a regra, caso contrário, jamais nos libertaremos das amarras da mediocridade e incompetência que se instalaram confortavelmente pelas bandas do palácio cor-de-rosa.

É claro que em última analise, o povo será sempre soberano nas suas escolhas, mas custa alguma coisa sermos mais exigentes? Custa alguma coisa assumir que merecemos mais e melhor? Podemos começar já a mudar de paradigma no próximo dia 17, mostrando um cartão vermelho à todos aqueles que apenas se lembram do povo nas alturas das eleições, aos que nunca moveram uma palha para defender os mais necessitados, aos que demonstram uma ambição desmedida e uma ânsia desenfreada pelo poder, aos que apenas entraram nessa corrida para vender depois o seu apoio na segunda volta, aos que, tendo ocupado vários cargos de responsabilidade, apresentam uma folha de serviços oca, aos que sempre se abstiveram de exercer os deveres basicos de cidadania, aos oportunistas, aos incompetentes, aos preguiçosos, aos levianos, aos parasitas, aos delinquentes e aos populistas, cujas candidaturas, vazias de convicções, ideias e de projectos, chegam a ser um insulto à nossa inteligência colectiva. Não podemos estar a apostar sempre nos mesmos jogadores, nos mesmos treinadores e na mesma táctica e esperar que o resultado do jogo mude. Está na hora de termos um presidente credível, sério, competente, trabalhador, dedicado, com sentido de estado, com provas dadas de elevado patriotismo, que não esteja comprometido com nenhum partido político, que seja uma referência para todos nós e que ponha São Tomé e Príncipe e os são-tomenses sempre em PRIMEIRO LUGAR, para finalmente podermos construir juntos, UM PAÍS PARA TODOS. Não acham que já o merecemos?

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