terça-feira, 9 de agosto de 2011

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS - RELATORIO & CONTAS ( PARTE I)

Terminado mais um processo eleitoral, chegou a hora de fazer um balanço final.

1 – Sobre os candidatos:

Manuel Pinto da Costa – A terceira foi de vez. Depois de ter sido derrotado em duas eleições passadas, (re) apareceu com a aura de salvador da pátria, carregando a bandeira de candidato independente e suprapartidário. De “pai grande” o apelidaram. Conseguiu reunir a sua volta grande parte dos seus camaradas do super dividido MLSTP, pessoas de todos os partidos e quadrantes da sociedade e, mais importante, garantiu o apoio financeiro do seu amigo José Eduardo dos Santos. O povo, cansado de ver as suas expectativas de mudança goradas e ávido de uma liderança firme que restituísse a autoridade de estado, a disciplina e a ordem que havia antigamente, não tendo identificado um outro candidato com o perfil de “cara mamão”, decidiu conceder-lhe uma oportunidade para tentar redimir-se dos erros do passado, negligenciando por completo o facto de estarmos agora num regime democrático onde o presidente tem os poderes bastante limitados. O tempo dirá se o próprio Pinto da Costa também está interessado em limpar a imagem de velho ditador. Da minha parte, tem para já, o benefício da dúvida e a esperança de que possa mais uma vez, ser o presidente de transição que ajude a projectar STP para um novo patamar, a nível da necessária consolidação democrática. Foi claramente o grande vencedor.

Evaristo Carvalho – Candidato surpresa do ADI. Apareceu tardiamente, depois de nenhum dos candidatos da família da mudança ter conseguido convencer Patrice Trovoada a apoia-lo e do próprio Patrice ter sido “obrigado” a desistir da ideia de avançar ele mesmo. Homem simples, pacato e com fama de conciliador. Não teve problemas em assumir que essa nunca tinha sido a sua ambição pessoal e talvez por isso, revelou-se um candidato apagado demais, que não conseguiu empolgar nem as bases do ADI. Mesmo assim, com a estrutura partidária e a máquina do estado ao seu serviço, apoiado de forma desesperada pelo presidente do seu partido que decidiu tomar as rédeas da coisa e fazer dessas eleições quase uma questão de vida ou morte, relegando-o para segundo plano e, dispondo de recursos financeiros nunca antes vistos, conseguiu um resultado surpreendente a todos os níveis. O ADI e o Patrice saíram a perder, mas o Evaristo não. Aliás, o Evaristo pouco ou nada tinha a perder.

Delfim Neves – Candidato de recurso do PCD, que não conseguiu encostar-se a nenhum outro grande partido e não quis arriscar o apoio á Filinto Costa Alegre. Quando formalizou a sua candidatura era também cidadão português. Foi por isso afastado da corrida há poucos dias do inicio da campanha eleitoral. Num volte face digno de figurar nos anais da história das decisões patéticas da justiça do nosso país, conseguiu adquirir o bilhete de reentrada na corrida eleitoral, depois de uma semana em Lisboa, onde de forma pouco clara, conseguiu o comprovativo da perda da nacionalidade portuguesa… apenas no dia 4 de Julho. Regressou ao país em apoteose, chegando mesmo a fazer alusão á intervenção divina que preconizava assim, a sua vitoria nas eleições, contra tudo e todos que o quiseram afastar por medo da derrota eminente. Delfim Neves é um animal de campanha e conhece o “terreno” como poucos políticos em STP, por isso, mesmo com uma semana de atraso, com o apoio da estrutura do PCD e demonstrando uma insuspeita pujança financeira, alcançou surpreendentemente o terceiro lugar nas eleições. É claramente a figura maior no actual PCD, mas fico na dúvida se não terá desbaratado grande parte do seu capital político ao apoiar o Pinto da Costa na segunda volta, coisa totalmente contra natura, para os militantes de base do PCD. O tempo dirá. Ainda não consegui perceber por que carga de água é conhecido (e tratado) em STP como “Obama”. Cada coisa que desce…

Maria das Neves – Seria a candidata natural do MLSTP se Aurélio Martins não tivesse lhe passado a perna. Mulher aguerrida, lutadora, mas que abusa do populismo e do capital político que acumulou por ter sido a primeira mulher a chefiar um governo em STP. Dizem que teve o apoio financeiro de alguns amigos de Luanda, da OMA e de Dilma Rouseff. Fez uma campanha vazia de conteúdo, folclórica até, agarrada a esperança de o povo pudesse a eleger apenas pelo facto de ser mulher. As contas saíram-lhe furadas, mas conseguiu um resultado interessante, cuja cereja no topo do bolo será a presidência do MLSTP, que em princípio, contará com a “bênção” de Pinto da Costa, no congresso extraordinário que já está a ser cozinhado. Sob certo prisma, também foi uma das vencedoras dessas eleições.

Elsa Pinto – Outra candidata que tinha esperança em triunfar numa sociedade ainda bastante machista. Mais inteligente e mais bem preparada do que a sua camarada de partido, foi traída pela ambição desmedida e pela pressa de querer marcar um encontro com a historia. Foi a candidata que mais falou nos tempos de antena e das que mais se destacou nas entrevistas que a TVS fez aos candidatos. Ainda não tem o carisma e aceitação que Maria das Neves goza junto dos militantes e dos barões do MLSTP e só por isso é que não avançará com uma candidatura à presidência do seu partido. Bem aconselhada e sabendo fazer uma leitura acertada dos “timings” políticos, pode ir longe.

Filinto Costa Alegre – Para mim, o candidato com melhor perfil nessas eleições. Um nacionalista que nunca virou as costas ao seu país nas horas das grandes batalhas colectivas. Apresentou um projecto alternativo e liderou aquela que foi reconhecidamente a campanha mais organizada dessas eleições. Talvez por algum défice de notoriedade, talvez por não ter tido os mesmos recursos que os outros ou talvez por ter se equivocado na analise que fez ao contexto politico actual, a sua candidatura não passou, mas no final, manteve a coerência e honestidade intelectual, decidindo não apoiar nenhum dos candidatos que passaram a segunda volta, que representavam precisamente o oposto daquilo que defendia. Acredito que a sua luta pela libertação económica de STP não tenha ficado por aqui.

Aurélio Martins – Recebeu a presidência do MLSTP quase de mão beijada e tinha tudo para ser feliz, se soubesse ser paciente e também não fosse traído pela ambição desmedida. A sua tarefa nem era assim tão difícil. Só tinha que tentar unir o seu partido e cumprir a palavra dada, abstendo-se de concorrer às eleições presidenciais, garantindo o apoio do MLSTP á Maria das Neves, que facilmente derrotaria as pretensões que a Elsa Pinto alimentava em ser a candidata oficial do MLSTP. Não o fez e apostou alto demais. Não só ficou atrás de todos os candidatos da família do MLSTP, como conduziu o partido aos piores resultados de sempre numas eleições em STP. Num país “normal”, seria ele próprio a tomar a decisão de demitir-se ou no mínimo, a convocar um congresso extraordinário para aferir o nível da sua (im) popularidade junto das bases do partido. Pelo contrário, garantiu que tem condições para continuar na liderança, mas no fundo, já deve estar a sentir que o seu “reinado” no MLSTP tem os dias contados. Por tudo isso, fica com o prémio de maior derrotado dessas eleições.

Helder Barros, Jorge Coelho e Manuel Deus Lima – Sem sequer garantirem as condições logísticas e financeiras mínimas, decidiram avançar como candidatos presidenciais. Não acrescentaram rigorosamente nada a esse processo eleitoral e prova disso foi o facto de os três juntos não terem conseguido sequer 1000 votos. Tinham o direito de apresentarem as suas candidaturas? Claro, sem dúvidas. Mas ficou mais uma vez expressa a necessidade imperiosa de se apertar os critérios de aceitação dos candidatos, a fim de se evitar os aventureiros de ocasião, ávidos de protagonismo temporário que só tornam mais complexo e cansativo o processo (Boletins de voto mais extensos, períodos de tempos de antena mais longos, impossibilidade de se promover debates e.t.c). Vamos ser sérios. Embora a lei assim o permita, há requisitos mínimos para se avançar com uma candidatura presidencial, pelo menos, com uma candidatura que pretenda ser credível. De qualquer forma, conseguiram acrescentar mais umas linhas nos seus C.V´s pessoais.

Liberato Moniz, Francisco Rita e Gilberto Gil Umbelina – Também poderiam ser enquadrados no leque dos aventureiros. Por negligência ou não, “esqueceram-se” de renunciar as respectivas nacionalidades estrangeiras antes de formalizarem as suas candidaturas, tal como Delfim Neves. Tendo inclusive prestado falsas declarações, ao Tribunal Constitucional. Por essa razão, viram as suas candidaturas excluídas do processo eleitoral. Dos três, apenas Liberato Moniz tentou virar o jogo a seu favor, mas não tem o “peso” e o jogo de cintura de Delfim Neves. O engraçado é que mesmo sem serem candidatos presidenciais de facto, viram os seus rostos impressos nos boletins de voto. Uma falha na nossa lei eleitoral de que falarei adiante. De qualquer forma, ficaram assim com uma bonita recordação.

Continua...

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